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Governo Brasileiro Enfrenta Alta nos Juros com Emissão de Títulos Públicos

2024-10-16

Autor: João

Contexto do Cenário Atual

Na última terça-feira (15), o Tesouro Nacional do Brasil enfrentou um cenário desafiador nos leilões de títulos públicos, registrando as maiores taxas de juros do ano. As incertezas sobre a política de juros nos Estados Unidos e a dificuldade de alcançar metas fiscais e de inflação no Brasil impactaram diretamente a emissão de dívida pública.

Emissão de Títulos e Tendências

O governo conseguiu comercializar completamente os lotes com vencimento em 2029 e 2035, mas apenas 25% dos títulos destinados a 2060 foram vendidos. Essa situação reflete um crescente interesse dos investidores pelos papéis atrelados à taxa Selic, premindo o governo a recorrer a essas opções de financiamento.

Os dados revelam que o valor total da emissão desses títulos indexados à inflação superou a média anual. Isso significa que, embora o governo tenha captado mais recursos, ele está fazendo isso com títulos de prazos menores e taxas de juros cada vez mais elevadas. O leilão teve uma taxa de juros real (descontada a inflação) de 6,69% ao ano para o título NTN-B 2029 e de 6,539% para o NTN-B 2060.

Mudanças na Política de Emissão

Recentemente, o Tesouro Nacional já havia sinalizado essa tendência ao revisar seu Plano Anual de Financiamento da dívida pública, planejando um aumento na emissão de títulos vinculados à Selic, enquanto os prefixados e os atrelados à inflação teriam sua participação reduzida. No acumulado dos primeiros oito meses do ano, a procura por LFTs (títulos corrigidos pela taxa básica) cresceu, principalmente devido às incertezas que pairam sobre a política monetária dos EUA.

Impactos das Incertezas e Expectativas

"Essas incertezas têm pressionado os mercados emergentes, elevando as taxas de câmbio e aumentando a aversão ao risco dos investidores," afirmou o Tesouro, ressaltando que a instituição está operando com cautela.

Além disso, em setembro, o Federal Reserve (Fed) dos EUA iniciou um ciclo de cortes na taxa de juros, que poderia impactar as finanças globais com cortes adicionais esperados para novembro e dezembro. Enquanto isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) aqui no Brasil aumentou a taxa básica de 10,5% para 10,75% ao ano, dando início a um novo ciclo de elevações.

Estratégias de Liquidez e Opiniões de Especialistas

O Tesouro também informou que está ampliando a emissão de títulos atrelados à Selic para garantir um "colchão de liquidez" superior a R$ 1 trilhão, visando uma gestão financeira mais sólida.

Daniel Xavier Francisco, economista do Banco ABC Brasil, comentou que a situação atual não apresenta dificuldades para a rolagem da dívida pública, afirmando que os leilões de LFT e NTN-B se encaixaram na estratégia desenhada pelo Tesouro. "Fatores conjunturais de mercado influenciaram a mudança no perfil das emissões, que são circunstâncias de curto prazo. Como os juros básicos aumentaram, o Tesouro adaptou seus limites para acomodar a preferência dos investidores por títulos pós-fixados."

Victor Furtado, da gestora W1 Capital, alertou que a expectativa de cortes de juros mais robustos nos EUA diminuiu, após os dados positivos sobre emprego e inflação, o que adia um aumento significativo na diferença dos juros entre as economias. O dólar se valorizou ainda mais, saltando 1,41% e encerrando o dia cotado a R$ 5,660. As emissões, embora acima da média do ano, enfrentam uma demanda menor, especialmente pelos títulos mais longos, à medida que os investidores se mostram cautelosos diante dos riscos.