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Governo da Geórgia ignora protestos e descarta novas eleições gerais após resultados polêmicos

2024-12-01

Autor: Mariana

O primeiro-ministro Irakli Kobakhidze foi direto ao responder a uma coletiva de imprensa sobre a possibilidade de novas eleições na Geórgia: "Claro que não". Esta declaração veio em meio a uma onda de protestos que tomou conta do país após as eleições de 26 de outubro, nas quais o partido governista Sonho Georgiano, acusado de se alinhar com a Rússia, obteve a vitória.

A oposição, que busca acelerar a integração do país à União Europeia (UE), alegou que o pleito foi repleto de irregularidades e exigiu uma nova votação. Em meio à crise, a presidente Salomé Zourabichvili destacou que não entregaria o cargo no final do ano até que novas eleições fossem convocadas.

Nos últimos dias, houve manifestações em várias cidades, especialmente na capital, Tbilisi, onde milhares de pessoas se reuniram para protestar contra a decisão do governo de adiar a integração à UE para 2028. A repressão policial foi severa, com o uso de jatos d’água e gás lacrimogêneo, resultando em mais de 150 prisões e ferimentos entre policiais e manifestantes.

"A violência contra manifestantes pacíficos não é aceitável", afirmou Zourabichvili durante uma visita à Ucrânia, a qual foi uma demonstração de apoio em meio ao crescente descontentamento popular. Em um dos protestos, a manifestante Ani Bakhtouridzé, de 32 anos, expressou sua frustração: "Votamos pela União Europeia, pela liberdade, pelos direitos humanos. E o que nosso governo está fazendo? O contrário".

A polícia, por sua vez, justificou que as ações de alguns manifestantes se tornaram violentas logo no início das manifestações. No entanto, paralelamente aos protestos, centenas de funcionários públicos, incluindo membros do Ministério das Relações Exteriores, Defesa e Educação, além de juízes, assinaram um manifesto de repúdio contra a decisão do governo, com mais de cem escolas e universidades suspendendo suas atividades.

Ademais, cerca de 160 diplomatas georgianos criticaram abertamente a postura do governo, advertindo que tal decisão poderia resultar em "isolamento internacional". Muitas renúncias em missões diplomáticas foram registradas como sinal de protesto.

Zourabichvili, que possui uma postura favorável à UE, assegurou que não deixaria seu cargo sob pressão e anunciou a criação de um "conselho nacional" com a participação de partidos da oposição e da sociedade civil, buscando unir forças contra a atual gestão.

A nova chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, manifestou preocupações sobre a situação na Geórgia, alertando que poderia ter "consequências claras" nas relações com a União Europeia. Kallas mencionou que algumas "opções" estão sendo consideradas entre os 27 Estados membros da UE, incluindo a possibilidade de sanções.

Apesar das críticas recebidas e das tensões, o governo georgiano continua afirmando sua intenção de se integrar à UE até 2030, enquanto acusa Bruxelas de "chantagem" em meio à crise política. Observadores eleitorais já sinalizaram indícios de um sistema de fraude eleitoral em larga escala nas eleições de outubro, levantando ainda mais dúvidas sobre a legitimidade do governo atual.