O governo do presidente Lula optou por não se pronunciar sobre um polêmico vídeo institucional da Marinha, que compara a vida dos civis brasileiros com a dos militares e desafia a narrativa de que os militares desfrutam de privilégios.

Em circunstâncias normais, como esta iniciativa contraria o discurso oficial do governo e desafia as medidas de austeridade propostas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seria esperado uma reprimenda pública. No entanto, devido à tensa relação entre o governo e os militares, especialmente após a transição de poder e as revelações de que altos oficiais estavam prontos para um golpe, o governo decidiu evitar uma nova crise e manteve silêncio sobre o assunto.

O presidente Lula se reuniu de forma não oficial com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica no mesmo fim de semana em que o vídeo foi lançado, onde o pacote de medidas fiscais foi um dos tópicos discutidos. Quando questionados, tanto a Presidência quanto o Ministério da Defesa não comentaram oficialmente a questão.

Uma fonte do governo mencionou que o vídeo foi um verdadeiro 'tiro no pé', uma vez que não gerou a reação esperada ao contrário do que os autores pretendiam. Observadores sugerem que, em vez de apoiar a Marinha, o vídeo acabou gerando uma onda de contrariedade entre os civis.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, fez ecoar a indignação nas redes sociais, qualificando o vídeo como um "grave erro" e ligando-o às investigações em torno da tentativa de golpe associada ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em suas palavras, é preocupante que esse material tenha sido divulgado em um momento em que um ex-comandante da Marinha está sendo investigado por sua participação em planos golpistas.

O vídeo em questão, criado para comemorar o Dia do Marinheiro, foi divulgado logo após o anúncio das medidas fiscais que visam restrições a benefícios, considerados privilégios, que beneficiam os militares. A peça mostra civis desfrutando de lazer, como praia e festas, contrapondo-se a imagens de militares em atividade. A produção encerra com uma marinheira desafiando a audiência: "Privilégio? Vem pra Marinha".

Essa situação lança luz sobre uma crescente tensão entre a sociedade civil e as forças armadas, especialmente em um contexto onde o governo busca cortar gastos e reformular a composição de benefícios militares. A maneira como essa comunicação é recebida pode ter repercussões significativas para a relação entre civis e o aparato militar no Brasil nos próximos meses.