Horror da Ditadura de Assad: Detentos Torturados e Seus Cadáveres Encontrados
2024-12-15
Autor: Maria
A tragédia revelada no hospital Al-Mujtahid em Damasco é um retrato aterrador dos 24 anos de regime ditatorial de Bashar al-Assad na Síria.
No último domingo (15), sob um sol escaldante, diversas famílias de desaparecidos nas prisões de Assad se reuniram em frente ao necrotério do hospital, buscando desesperadamente identificar seus entes queridos entre oito corpos de homens expostos no chão, todos com evidências claras de tortura, severa desnutrição, ferimentos por bala e até mesmo um corpo com uma perna amputada. O estado dos corpos, alguns cobertos apenas com lençóis brancos ensanguentados, colocava em evidência o horror da situação.
Bakri bin Muhammad Zaeirbani, um verdureiro de Aleppo, chegou ao necrotério em busca de informações sobre seus três filhos – Muhammad, Ahmed e Ali. Eles foram detidos em 2013 e enviados à infame prisão de Sednaya, conhecida pela Anistia Internacional como um "abatedouro humano". Estima-se que milhares de sírios tenham sido executados nas instalações dessa prisão.
Após o recente colapso do governo de Assad, que se viu à mercê da oposição representada pelos milicianos do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), Assad fugiu para a Rússia, abandonando milhões de sírios a um futuro incerto. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha estima que cerca de 150 mil pessoas desapareceram durante o regime de Assad, com muitos delas sendo levados para as prisões do governo, onde a tortura era uma prática comum.
No total, cerca de 40 corpos entregues ao hospital foram descobertos pelos milicianos do HTS em Sednaya e nas instalações do hospital militar de Harasta. Esses corpos eram usualmente transportados enrolados em lençóis sujos e, frequentemente, eram enterrados em valas comuns sem uma identificação adequada.
A nova administração provisória liderada pelo HTS, sob o comando do primeiro-ministro interino Mohammed al-Bashir, enfrenta pressão crescente da população que busca justiça e esclarecimento sobre seus desaparecidos. O governo de transição aconselha as famílias a baixar um aplicativo que permite verificar, através do número de identidade, se seus entes queridos estão listados entre os mortos. Entretanto, muitos questionam a credibilidade desse sistema, dado os anos de mentiras e encobrimentos do regime anterior.
Os filhos de Zaeirbani foram detidos por agentes da temível polícia de segurança da Força Aérea de Assad. Todos eram trabalhadores humildes, vendendo verduras nas ruas, sem qualquer envolvimento político. O pai lembra que, ao buscar informações sobre seus filhos, foi ameaçado por um dos guardas, que alertou que ele também poderia ser preso se voltasse ao local novamente.
Dentre aqueles que se aglomeravam no necrotério, estava Mahmud Jamal Tafi, de Aleppo, que lutava contra o cheiro nauseante enquanto buscava por dois amigos desaparecidos desde 2015. Dos 40 corpos encontrados, apenas metade foi identificada até o momento. Médicos forenses têm tentado determinar a identidade dos cadáveres por meio de amostras de DNA, embora a falta de laboratórios funcional possa atrasar o processo.
A situação se torna ainda mais angustiante quando consideramos que a organização de direitos humanos, Observatório Sírio de Direitos Humanos, tem documentado que cerca de 60 mil pessoas foram torturadas e assassinadas nas prisões sob o comando de Assad.
O HTS, classificado como entidade terrorista por muitos países, se esforça para se legitimar e apresenta um discurso de união. No entanto, líderes do grupo, como Ahmad al-Sharaa, prometem que aqueles culpados por crimes contra o povo sírio finalmente enfrentarão a justiça. "Vamos atrás dos criminosos de guerra e exigiremos sua extradição dos países que os abrigam", declarou Sharaa, fervendo um desejo de vingança que parece ecoar entre as famílias das vítimas.
Bakri Zaeirbani, que já não nutre esperanças de encontrar seus filhos vivos, se apega à única expectativa que resta: a busca por justiça e a esperança de que aqueles que perpetraram tais atrocidades sejam punidos. "Peço apenas a Deus que haja vingança e que a verdade venha à tona", concluiu, com um semblante de dor e tristeza.