Ilha Amazônica Desvenda Segredos do Campo Magnético da Terra
2024-12-28
Autor: Ana
A Ilha de Tatuoca, localizada a apenas meia hora de lancha de Belém, no Pará, é um lugar sem moradores ou veículos e que carrega uma rica história que remonta a episódios marcantes, como a Revolta da Cabanagem e a função de quarentena para suspeitos de doenças contagiosas. Nos últimos cem anos, no entanto, Tatuoca tem sido um pilar de pesquisa científica, abrigando o Observatório Magnético de Tatuoca, que faz parte de uma rede global dedicada a monitorar o campo magnético da Terra.
A origem desse campo magnético se encontra no núcleo externo da Terra, a mais de 2.900 quilômetros abaixo da superfície, onde ferro e níquel se movem continuamente, criando um escudo crucial que nos protege do vento solar e dos raios cósmicos.
Para entender tanto a história quanto o futuro do campo magnético, é necessário o uso de modelos computacionais. Segundo Cristiano Mendel, diretor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA), "para desenvolver esses modelos e compreender os fenômenos magnéticos, é imprescindível ter observatórios distribuídos ao longo da superfície".
Inaugurado em 1957, o Observatório Magnético de Tatuoca tem sido fundamental para elucidar os mistérios do campo magnético da Terra, contribuindo para a ciência básica e ajudando a desvendar o interior do planeta, além de aplicações práticas, como a navegação por satélites. Este observatório é estrategicamente posicionado para estudar dois fenômenos importantes: o equador magnético e a corrente eletrojato equatorial.
André Wiermann, tecnologista sênior do Departamento de Geofísica do Observatório Nacional (ON), ressalta a importância das medições realizadas em Tatuoca: "Elas são cruciais para entender a estrutura, os processos e as interações do campo magnético da Terra com o Sol, influenciando diretamente operações de satélites e sistemas tecnológicos essenciais".
Tatuoca: Um Palco de História e Ciência
Antes de se tornar um centro de pesquisa, Tatuoca testemunhou eventos históricos significativos. Durante a Revolta da Cabanagem, em agosto de 1835, o marechal Manuel Jorge evacuou Belém em decorrência da insurreição, estabelecendo seu quartel na ilha. Tatuoca também atuou como uma estação de defesa sanitária em momentos críticos, como durante a epidemia de cólera em 1855, quando navios eram submetidos a quarentena, e durante a epidemia de peste bubônica em 1903, onde desinfetórios foram montados para os barcos.
O início das atividades científicas na ilha remonta a 1917, quando medições do campo magnético começaram a ser realizadas na margem equatorial brasileira, em uma época em que estava se preparando o experimento para verificar a Teoria da Relatividade de Albert Einstein durante um eclipse. Embora Tatuoca tenha sido considerada para essas observações, as medições acabaram ocorrendo em Sobral, no Ceará, devido ao clima nebuloso da região na época.
Em 1957, o Observatório Magnético de Tatuoca emergiu como a estação científica em funcionamento mais antiga da Amazônia, um fato que destaca a importância do local para a pesquisa científica.
Fenômenos Magnéticos e Suas Implicações
A localização da ilha é crucial para o monitoramento do equador magnético, onde o campo magnético se alinha paralelo à superfície da Terra. Nesse ponto, uma bússola não apresenta inclinação vertical, permanecendo paralela ao solo. André Wiermann explica que as variações no campo magnético não são homogêneas e o equador magnético pode sofrer deformações e deslocamentos ao longo do tempo, fenômenos que têm sido estudados e acompanhados em Tatuoca.
Desde 1957, observou-se que o equador magnético se movia ao sul, próximo a Mossoró (RN), e, em 2012, cruzou Tatuoca. Mais recentemente, em abril de 2023, ele atravessou Macapá (AP), onde também existe uma estação de medições magnéticas.
Outro fenômeno notável é a Anomalia Magnética do Atlântico Sul, caracterizada por uma redução na intensidade do campo magnético. Essa anomalia, que se desloca gradualmente para oeste e se estende por centenas de quilômetros, continua a afetar a tecnologia do dia a dia, especialmente a de satélites em órbita baixa, que enfrentam um risco maior devido à presença de partículas solares.
Uma Ilha de Ciências na Amazônia
Recentemente, a UFPA e o Observatório Nacional têm fortalecido suas colaborações, com um objetivo ousado: transformar Tatuoca numa Ilha de Ciências. A ideia é utilizar a infraestrutura da ilha para pesquisas em áreas diversificadas, incluindo o monitoramento ambiental, a qualidade da água e a dinâmica química e física do local. Esse esforço para colaborar internacionalmente já envolve agências de países como França, Alemanha, Estados Unidos e Índia.
Cristiano Mendel enfatiza a importância da Amazônia como um dos biomas mais vitais do planeta, e a manutenção dos ecossistemas nesta região é crucial para a preservação da biodiversidade e o combate às mudanças climáticas. "Estamos posicionando Tatuoca nesse contexto global, desenvolvendo colaborações científicas que podem gerar conhecimento significativo para o mundo", conclui Mendel.
Prepare-se para se surpreender com o que mais este lugar escondido pode revelar sobre os mistérios da Terra!