Imagens Criadas por IA Dominam o X e Acirram Debate Sobre Desinformação
2024-12-26
Autor: João
Nas últimas semanas, as redes sociais brasileiras foram inundadas por imagens ultrarrealistas geradas pela inteligência artificial Grok, trazendo à tona cenas que nunca aconteceram, como um abraço entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), ou até mesmo um passeio do bilionário Elon Musk em São Paulo com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Essas criações têm gerado tanto entretenimento quanto preocupações sérias acerca da desinformação, especialmente em um cenário político já polarizado.
Um levantamento realizado pela consultoria Bites aponta que entre os dias 1 e 16 de dezembro, mais de 21 mil tuítes com imagens criadas pelo Grok foram compartilhados, resultando em cerca de 1,47 milhão de interações e impressionantes 63,8 milhões de visualizações. O pico desse fenômeno ocorreu no dia 11 de dezembro, um dia após Lula passar por uma cirurgia devido a uma queda, momento que desencadeou uma série de imagens manipuladas que levantaram questionamentos sobre sua verdadeira condição de saúde.
Uma das imagens mais controversas, que mostrava o presidente com a cabeça enfaixada, começou a circular como se fosse um registro autêntico da internação e provocou desinformação. A confusão aumentou quando até mesmo membros do governo, como o deputado federal Rubens Otoni (PT-GO), compartilharam a imagem, apenas para removê-la posteriormente ao perceberem que era falsa.
"É inquietante ver como algumas postagens fabricadas podem mudar a percepção pública", comenta Letícia Capone, integrante do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio. "As imagens têm um apelo visual forte, o que as torna propensas ao compartilhamento sem verificação."
A problemática envolvendo a desinformação não se limitou apenas ao cenário político; outros casos notáveis incluem a circulação de vídeos falsos que simularam declarações de Bolsonaro, claramente fabricadas, e até mesmo uma imagem da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em situações comprometedoras.
Em resposta à crescente preocupação com a desinformação, especialistas recomendam que todas as postagens geradas por IA sejam rotuladas claramente. No entanto, isso nem sempre é seguido. Uma postagem do governador Tarcísio de Freitas com uma imagem de um passeio fictício com Musk recebeu críticas por não indicar de forma explícita que a imagem era uma criação da IA, embora uma tentativa de esclarecer a situação tenha sido feita posteriormente no Instagram.
O humor tem sido um dos principais veículos pelos quais as imagens geradas por IA ganham popularidade. Em um dos casos mais acessados, uma montagem de Bolsonaro casando com a influenciadora Jojo Toddynho alcançou 3,5 milhões de visualizações, com a observação clara de que era uma obra da inteligência artificial. Outra imagem notável que circulou mostrava Elon Musk e Lula juntos, capturando a curiosidade de 1,2 milhão de usuários.
Esse fenômeno digital levanta questões cruciais sobre como as plataformas sociais precisam abordar o potencial de desinformação causado pelo uso intenso de tecnologia IA. Afinal, até que ponto podemos confiar nos conteúdos que vemos online? Nesse cenário em que a linha entre a realidade e a ficção se torna cada vez mais tênue, a educação do usuário e a responsabilidade das plataformas se tornam mais essenciais do que nunca.