
Impacto da Exclusão de Alimentos e Combustíveis no IPCA: O que Você Precisa Saber
2025-03-26
Autor: Ana
A sugestão do vice-presidente Geraldo Alckmin de retirar alimentos e combustíveis do cálculo do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) não teria um impacto relevante nas projeções de inflação para 2025. Especialistas estimam que o IPCA cheio deverá variar em torno de 5,6% para este ano, enquanto o IPCA sem considerações de alimentos e combustíveis ficaria em 5,3%, ainda assim acima do teto do intervalo de tolerância estabelecido pelo sistema de metas de inflação. Este sistema determina um centro da meta em 3% e permite desvios entre 1,5% e 4,5%.
As análises realizadas pelo economista Fábio Romão da consultoria LCA-4Intelligence sugerem que, se a exclusão tivesse ocorrido em 2024, a inflação teria batido 3,8%, o que estaria abaixo do teto, mas ainda assim acima do centro da meta. Curiosamente, se essa exclusão tivesse sido aplicada em 2023, o IPCA expurgado teria mostrado uma inflação de 5,4%, superando o IPCA cheio de 4,6%. Este fenômeno se deve a uma deflação nos preços dos alimentos e a uma forte retração nos preços de combustíveis, exceto gasolina e gás encanado.
O Copom, na prática, observa uma série de índices de preços que excluem fatores sazonais e voláteis, conhecidos como núcleos da inflação. Atualmente, são nove índices considerados, e, por exemplo, enquanto o IPCA de fevereiro variou em 1,31%, os núcleos apresentaram um avanço de apenas 0,6%. Se projetado em termos anuais, esse valor acumulado representaria uma elevação de 7,4%, muito acima do teto estabelecido.
Adotado em 1990, na Nova Zelândia, o sistema de metas de inflação está presente na maioria das economias de mercado, mas sua aplicação varia bastante. Nos Estados Unidos, por exemplo, alimentos e energia são excluídos do índice de inflação utilizado para definir a taxa de juros, com uma meta anual estabelecida de 2% desde 2012.
No Brasil, até o ano passado, a meta considerava o IPCA cheio. Porém, a partir de 2025, mudamos para um sistema de meta contínua, com foco no acumulado de 12 meses. O governo estabelece a meta de 3%, com uma faixa de tolerância entre 1,5% e 4,5%, a qual deve ser perseguida pelo Banco Central.
É relevante ressaltar que, apesar das mudanças, muitas ineficiências no sistema de metas de inflação persistem, especialmente após as massivas injeções de recursos para enfrentar a crise financeira de 2008. Essa situação levou a taxas de juros cada vez mais altas, impactando negativamente a atividade econômica e o bem-estar da população.
A discussão sobre metas de inflação continua entre economistas de diferentes linhagens. Em outubro do ano passado, uma proposta de aumento da meta de 3% para 4% foi apresentada por economistas heterodoxos, enquanto vozes ortodoxas, como do professor Sergio Werlang, reivindicam metas menos rígidas. Aloisio Araújo, um destacado economista da FGV, sugere que o Copom se concentre mais no teto do que no centro da meta, permitindo a definição de altas menores nos juros Selic.
Até o momento, o Banco Central não demonstrou interesse em revisar essas diretrizes. O discurso oficial ainda se mantém firme em perseguir o centro da meta que foi fixado pelo governo, mas economistas alertam que a realidade econômica exige uma nova abordagem para o sistema de metas de inflação. O que será necessário para que uma nova estratégia de controle se torne viável? Os próximos meses poderão trazer respostas.