Saúde

'Impacto Ético e Científico': Estudo que Propagou Uso de Cloroquina para Covid-19 é Retirado

2024-12-17

Autor: Pedro

Um estudo controverso que gerou um grande alvoroço em torno do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 foi oficialmente despublicado nesta terça-feira (17) devido a sérios problemas éticos e metodológicos, de acordo com informações da renomada revista Science. Esta ação, conhecida como retratação, é aplicada quando as falhas do artigo são tão evidentes que suas conclusões não podem mais ser consideradas confiáveis.

O artigo, publicado inicialmente em 2020 na revista International Journal of Antimicrobial Agents e assinado pelo médico francês Didier Raoult, ex-diretor do Instituto Hospitalar de Infeções Mediterrâneas em Marselha, afirmava que a hidroxicloroquina, normalmente utilizada para tratar malária, poderia reduzir significativamente a carga viral em pacientes diagnosticados com Covid-19 e que sua eficácia seria amplificada quando combinada com azitromicina, um antibiótico.

O estudo, no entanto, levantou muitas críticas da comunidade científica mundial, que questionou especialmente o pequeno tamanho da amostra, que incluía apenas 36 pacientes, e a rapidez alarmante com que o artigo foi publicado - apenas quatro dias após sua submissão. Investigações subsequentes, que incluíram estudos maiores e mais rigorosos, confirmaram que a hidroxicloroquina não apresentava eficácia para o tratamento da Covid-19.

Desde sua publicação até a retratação, críticos do trabalho apontaram uma série de falhas tanto éticas quanto metodológicas. A retratação deste artigo foi decidida pela Elsevier e pela Sociedade Internacional de Quimioterapia Antimicrobiana, que co-publicam a revista, citando preocupações não apenas da comunidade científica, mas também expressadas pelos próprios autores em relação à metodologia e às conclusões apresentadas no texto.

Adicionalmente, uma investigação conduzida pela Elsevier não conseguiu esclarecer se a pesquisa obteve aprovação ética antes do recrutamento dos participantes ou se os pacientes forneceram consentimento para o tratamento com azitromicina, levantando ainda mais questões sobre a validade do estudo.

Além disso, até o presente momento, 32 artigos publicados por pesquisadores do Instituto de Infeções Mediterrâneas, onde Raoult trabalhava, foram retratados, sendo 28 deles co-autorias do próprio Raoult. Outro dado alarmante é que 243 artigos suscitaram expressões de preocupação. Em um desdobramento dramático, o registro médico de Didier Raoult foi cassado em outubro deste ano, o que significa que ele não poderá mais exercer a medicina a partir de 1º de fevereiro de 2025, com a sanção durando dois anos.

Esse caso levanta um debate crucial sobre a responsabilidade ética na pesquisa científica, especialmente em tempos de crise de saúde pública, como a pandemia de Covid-19.