Introdução

Um estudo inovador realizado em Recife (PE) trouxe à tona dados alarmantes sobre o ciclo de violência contra a mulher. As pesquisas mostram que mulheres que sofrem agressões começam a mudar seus padrões de busca por atendimento médico 92 dias antes que os casos se agravem, tornando-se vítimas de ferimentos graves ou mesmo de homicídios.

Dados Alarmantes

Conforme os dados coletados pela Vital Strategies, em parceria com a FrameNet Brasil e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o comportamento dessas mulheres na busca por serviços de saúde muda drasticamente, incluindo queixas frequentes relacionadas à saúde mental e sinais evidentes de agressão.

Uso de Inteligência Artificial

O projeto utilizou inteligência artificial e análise semântica, cruzando informações do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) com prontuários eletrônicos da atenção primária à saúde, permitindo a identificação precoce de sinais de violência.

Casos de Feminicídio

Os dados revelam que muitos casos de feminicídio ocorreram poucos dias após notificações de violência no Sinan, o que demonstra a urgência em identificar essas mulheres antes que tragédias aconteçam. Um caso chocante discutido na pesquisa envolve uma mulher cujo óbito foi classificado como acidente, mas as evidências no prontuário indicavam que ela estava sendo agredida pelo companheiro antes de ser lançada de um caminhão.

Importância da Atenção Básica

A pesquisadora Sofia Reinach enfatiza a importância da atenção básica nesse processo: 'Estamos tentando entender o que acontece antes das notificações mais graves. Sabemos que a violência contra a mulher é cíclica e a saúde primária precisa agir nesse cenário'.

Notificações de Violência

A pesquisa também revela que apenas 19,5% das notificações de violência contra a mulher são realizadas pela atenção básica, enquanto 80% são feitas por hospitais e prontos-socorros, apontando uma clara falha na detecção precoce que poderia salvar vidas.

Redução do Risco de Morte

Além disso, outro estudo em Goiânia (GO) constatou que, quando as mulheres são encaminhadas a serviços após notificações de violência, o risco de morte diminui em até 60%. 'A identificação rápida é fundamental para evitar hospitalizações e mortes desnecessárias', afirma Reinach.

Saúde das Vítimas de Violência

Os pesquisadores também observaram que, ao analisarem as mulheres vítimas de violência, a incidência de doenças crônicas como hipertensão e diabetes era significativamente menor em relação a mulheres que não sofrem violência, sugerindo que as condições de saúde dessas vítimas estão sendo ofuscadas pela busca de ajuda relacionada à violência.

Complexidade da Violência

Por fim, a assistente social Maria das Graças Ferreira destaca a complexidade da questão da violência: 'Muitas vezes, a violência começa com agressões psicológicas, que minam a autoestima das mulheres, tornando-as vulneráveis'. A secretária municipal da Saúde de Recife, Luciana Albuquerque, reforça a necessidade de desenvolver estratégias para sensibilizar os profissionais de saúde a lidar com casos de violência de forma mais eficaz.

Conclusão e Futuras Ações

Com o estudo, está prevista a criação de um painel que ajudará a identificar áreas com altas taxas de subnotificação de violência, permitindo uma melhor abordagem e capacitação dos profissionais de saúde. Em um mundo onde a violência contra a mulher continua a ser um problema grave e persistente, essa pesquisa traz esperança e a possibilidade de salvar vidas através da tecnologia e da conscientização.