Ciência

Investir em combustíveis fósseis é um suicídio planetário, alerta Carlos Nobre

2024-11-22

Autor: Julia

A COP29, que aconteceu em Baku, no Azerbaijão, chegou ao fim em meio a um impasse já esperado sobre o financiamento climático. Todos os anos, essa tema é um dos maiores obstáculos nas negociações das COPs, refletindo as divergências sobre os esforços de cada país para combater o aquecimento global.

Nesta edição, o financiamento se tornou o foco central, com quase 200 países reunidos para estabelecer um novo valor anual destinado a apoiar países em desenvolvimento na transição para uma economia de baixo carbono. O Acordo de Paris sobre o Clima atribui essa responsabilidade aos países desenvolvidos. No entanto, nações ricas têm argumentado que é hora das grandes potências emergentes, em especial a China, também contribuírem.

Carlos Nobre, climatologista renomado e colunista da Ecoa, expressou sua preocupação sobre a lentidão da transição necessária para conter a crise climática. Ele é um dos signatários de uma carta enviada pelo Clube de Roma às Nações Unidas, que pede soluções mais efetivas nas Conferências do Clima. Nobre foi um dos pioneiros a discutir o ponto de não retorno da Amazônia, onde as condições climáticas poderiam inviabilizar sua regeneração.

Recentemente, ele sobrevoou a Amazônia com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, revelando os impactos devastadores do aquecimento global. Ao visualizar áreas severamente desmatadas e queimadas, ele destacou a importância dessa experiência visceral para líderes que podem mudar o rumo das políticas ambientais.

Entretanto, Nobre expressou ceticismo sobre a eficácia atual das COPs. Segundo ele, as promessas feitas nas conferências não têm se concretizado. A COP26 em 2021, por exemplo, prometeu limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, mas as emissões continuam a crescer. A meta do Brasil de reduzir suas emissões em 69% até 2035 em relação a 2005 é considerada alta, mas a realidade é que muito ainda precisa ser feito para evitar um aquecimento de 2,5°C até 2050, o que ele classifica como um 'ecocídio' no planeta.

O cientista apelou por uma maior responsabilização dos países em relação às suas promessas e sugeriu a necessidade de conferências menores e mais frequentes, que poderiam gerar discussões mais concretas e decisões rápidas diante da urgência climática. Ele também destacou o paradoxo do investimento atual em combustíveis fósseis, que continua a superar o investimento em energias renováveis. A transição energética requer um gasto de aproximadamente 1 a 3 trilhões de dólares anualmente, o que ainda está muito aquém do que é gasto na exploração de combustíveis fósseis.

Conforme o Brasil se prepara para sediar a COP30 no próximo ano, a pressão aumenta para que o país reconsidere suas políticas de combustíveis fósseis e demonstre um comprometimento real com a preservação ambiental. O papel da ONU é crucial nesse contexto, especialmente considerando os atuais desafios globais.

Com as incertezas políticas, Nobre espera que a Conferência de Baku traga pelo menos uma centelha de otimismo, embora suas expectativas sejam cautelosas. As promessas precisam ser seguidas de ações concretas, ou corremos o risco de levar o planeta a um colapso irreversível.