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IPCA: O que o Estouro da Meta da Inflação em 2024 Significa para 2025?

2025-01-10

Autor: Pedro

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a principal métrica da inflação no Brasil, fechou 2024 em impressionantes 4,83%, superando o teto da meta de 4,5% definida pelo Banco Central. Este dado alarmante foi revelado nesta sexta-feira (10), marcando a oitava vez que essa meta não foi cumprida desde 1999. A inflação de dezembro, que subiu 0,52%, ainda que ligeiramente abaixo das expectativas do mercado, reforça uma tendência preocupante de aumento contínuo nos preços de bens e serviços ao longo do ano.

A situação coloca em foco as últimas declarações do Banco Central, tanto na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) quanto no relatório trimestral de inflação. Especialistas, como Marcelo Bolzan, da The Hill Capital, alertam que o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, terá que explicar essa discrepância numérica ao Congresso, uma vez que as expectativas já apontavam uma inflação acima do limite estabelecido.

Um dos principais culpados por esse cenário é a desvalorização do real, que acarretou uma queda de 27,36% em relação ao dólar em 2024. Esse depreciamento da moeda torna insumos e produtos importados mais caros, afetando tanto o consumidor final quanto a indústria nacional. Além disso, a inflação nos serviços, especialmente aqueles que são mais sensíveis às condições econômicas, como alimentação fora do lar e transporte, intensifica as preocupações sobre a capacidade do Banco Central de controlar os preços em 2025.

Com a nova meta de inflação contínua estabelecida em 3% para os próximos anos, espera-se que, se a inflação se desviar do intervalo de tolerância (1,5% a 4,5%) por seis meses seguidos, o Banco Central será obrigado a explicar os motivos, as medidas a serem tomadas e o prazo para reconduzir a inflação ao alvo. As instituições financeiras, como XP Investimentos e Bradesco BBI, já projetam que o IPCA de 2025 deve permanecer acima da meta, com estimativas de 6,1% e 5,8%, respectivamente.

Economistas alertam que a inflação elevada pode se agravar em consequência de diversos fatores, como a contínua desvalorização da moeda, a elevação dos custos de produção e uma demanda interna aquecida. O Itaú BBA, ainda que mais cauteloso, também prevê uma inflação que supera as metas. Para alguns especialistas consultados, é possível que o IPCA em 2025 ultrapasse 6% devido à evolução das condições do mercado de trabalho e à pressão dos preços dos serviços.

Os preços dos alimentos, como café, açúcar e proteínas, devem permanecer altos, refletindo já nos primeiros meses de 2025 e impactando o consumidor. Expectativas de aumentos em itens essenciais, como hortifrutigranjeiros e carnes, sustentam essa projecão. A pressão por serviços básicos e produtos industriais também contribui para essa manutenção da inflação a níveis elevados.

O Banco Central já iniciou um novo ciclo de aumento da taxa Selic, que encerrou 2024 em 12,25% ao ano e deverá atingir 14,25% até março. O objetivo principal é conter essa escalada inflacionária, dando ênfase especial a itens que exigem mão de obra intensiva e produtos industrializados, cujo custo já foi diretamente afetado pela troca cambial negativa.

No entanto, especialistas são céticos quanto à eficácia dessa política monetária, dada a percepção de risco fiscal e as expectativas inflacionárias que estão fora do controle. A condução da política fiscal do governo será crucial para evitar uma espiral de aumento de preços, uma vez que o mercado continua a avaliar cuidadosamente as ações do governo em relação ao controle de gastos e ao manejo da dívida pública.

De acordo com Igor Cadilhac, economista do PicPay, a inflação persistente impacta diretamente o poder de compra do consumidor, já que os preços de bens essenciais continuam a subir. Isso afeta não apenas o consumidor, mas também setores do varejo e da indústria, que enfrentam custos elevados e dificuldades de repasse. A continuidade desse quadro inflacionário pode trazer ajustes severos na economia em 2025, afetando crescimento econômico, geração de empregos e a disponibilidade de renda para as famílias. Para o Banco Central, a tarefa de fixar novamente as expectativas em torno da inflação e reconduzi-la à meta será um desafio primordial nos meses à frente.