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Irã: Por que o país tem tão poucos aliados na disputa contra Israel e EUA?

2024-10-11

Autor: Ana

A Solidão Estratégica: Entenda o isolamento do Irã na disputa com Israel e EUA

Ao longo das últimas semanas, o Irã tem enfrentado um período crítico em suas relações internacionais. O ataque surpresa do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, trouxe à tona um novo ciclo de instabilidade que não afeta apenas a região, mas coloca o mundo em alerta. O estreitamento das relações entre Teerã, Israel e os Estados Unidos provoca preocupações de uma potencial guerra aberta que poderia desestabilizar toda a região do Oriente Médio.

Com a crescente tensão, a reunião entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o novo líder iraniano, Masoud Pezeshkian, agendada para esta sexta-feira (11/10), provavelmente será marcada pela discussão sobre a crise no Oriente Médio. O evento ocorre no contexto das conversações entre nações da Ásia Central e ressalta a necessidade de estratégias para lidar com a escassez de aliados do Irã.

O Irã tem enfrentado um isolamento internacional crescente ao longo das últimas décadas, especialmente após a Revolução Islâmica em 1979. O que os analistas chamam de 'solidão estratégica' é resultado da falta de parcerias formais e do alinhamento ideológico com outros estados, tornando o país vulnerável em tempos de crise.

Thomas Juneau, professor da Universidade de Ottawa, destaca que além de seus aliados não estatais, como Hamas e Hezbollah, o Irã colabora com apenas um número restrito de países, o que limita suas opções. Mansour Farhang, acadêmico da Universidade de Bennington, enfatiza o caráter isolado do Irã na arena internacional, afirmando que nenhum país se alinha completamente com sua ideologia ou políticas expansionistas.

Geograficamente, o Irã é cercado por potências que possuem interesses divergentes. Ao norte encontra a Rússia, que também tem interesses estratégicos na região; a noroeste está a Turquia, um tradicional rival; e a sul, a Arábia Saudita, que se opõe ideologicamente ao Irã. Ademais, países como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein mantêm acordos de segurança com os Estados Unidos, aumentando ainda mais a marginalização do Irã no concerto internacional.

Historicamente, a Revolução Islâmica buscou exportar sua ideologia, promovendo um antagonismo em relação a Israel. Khomeini, o líder da revolução, via a luta contra Israel como uma forma de cimentar sua moral e influência em um mundo árabe já desencantado com a política ocidental. Entretanto, este antagonismo não se traduziu em parcerias fortes, e as intenções de Khomeini de propagar a revolução acabaram por levar o Irã a guerras, como a que travou contra o Iraque na década de 1980.

Atualmente, a única aliança real que o Irã possui é com a Síria. Contudo, o governo sírio, liderado por Bashar al-Assad, está em uma posição frágil devido à guerra civil, limitando seu apoio ao Irã. Ademais, embora o Irã tenha influência em grupos como o Hezbollah no Líbano e milícias no Iraque, essa influência é frequentemente mais um reflexo de relação não formal do que de um verdadeiro suporte governamental.

A Rússia tem se tornado um parceiro mais próximo, especialmente após a invasão da Ucrânia, onde o Irã forneceu armamentos. No entanto, isso levanta questões sobre o custo desse apoio russo, especialmente considerando a necessidade de manter relações com outros países do Oriente Médio.

Além disso, o Irã mantém laços com nações como China e Coreia do Norte, que o ajudam a contornar sanções. A China, por exemplo, continua sendo o maior importador de petróleo iraniano, mas busca equilibrar seus interesses, enquanto a Coreia do Norte tem colaborado em troca de recursos energéticos.

Recentemente, o Irã buscou fortalecer relações com países da América Latina, como Venezuela e Cuba, unidos pela oposição aos EUA. Contudo, esse apoio fica restrito ao simbólico e não traz benefícios concretos para Teerã em conflitos militares com Israel e EUA.

Diante desse cenário complexo e desafiador, o que se espera da reunião entre Putin e Pezeshkian? Será que o Irã encontrará no Kremlin um verdadeiro aliado em sua jornada solitária contra adversários poderosos? A batalha do Irã por reconhecimento e colaboração internacional continua, e os desdobramentos dessa reunião serão fundamentais para o futuro da região.