Laços sociais: a chave secreta para macacos-prego dominarem novas habilidades!
2024-12-23
Autor: Mariana
Um estudo recente realizado com macacos-prego (Sapajus libidinosus) no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, destacou a importância crucial da tolerância social no aprendizado dessas primatas. Publicado na renomada revista PNAS, a pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com a Universidade de Durham, no Reino Unido, revela como a observação e interação social entre os macacos é fundamental para a aquisição de novas habilidades.
Os pesquisadores descobriram que os macacos que participam de atividades coletivas, como a caça de parasitas e brincadeiras, têm maior probabilidade de aprender observando os seus companheiros. "Observamos que a aprendizagem social acontece principalmente por meio da observação direta, onde um indivíduo aprende ao observar outro em ação. A tolerância social emergiu como um previsor significativo de quem aprenderia com quem", explica Camila Galheigo Coelho, uma das autoras principais do estudo.
O estudo também utilizou um modelo matemático inovador, analisando como novas técnicas de obtenção de recursos se espalham entre os grupos por meio da aprendizagem mediada socialmente, em vez de apenas por processos de aprendizagem individual. Eduardo Ottoni, professor do IP-USP, complementa: "A difusão de comportamentos não é apenas uma questão de novos indivíduos aprenderem de maneira gradativa, mas sim de interações sociais desempenhando um papel central".
Ademais, os jovens macacos que ainda não dominavam as habilidades eram mais propensos a aprender com machos adultos bem-sucedidos. Isso revela um aspecto fascinante do comportamento social dos macacos-prego, que não só se apoiam nas experiências uns dos outros, mas também demonstram um reconhecimento do valor do aprendizado entre diferentes idades e habilidades.
Esse trabalho faz parte de um projeto mais amplo intitulado "Efeitos da dinâmica social na difusão de novos comportamentos em grupos de macacos-prego", coordenado por Ottoni que, desde os anos 90, investiga o uso de ferramentas e aprendizado social em primatas brasileiros.
Uma descoberta intrigante é que, apesar da variação nas tradições culturais entre diferentes populações de macacos-prego, todos compartilham comportamentos complexos, como o uso de pedras para quebrar cocos, além de varetas para capturar pequenos animais. "Cada grupo desenvolve suas próprias técnicas de acordo com as necessidades do ambiente, o que compõe um rico mosaico de práticas culturais não humanas", sublinha Ottoni.
Para chegar a essas conclusões, duas comunidades de macacos-prego foram observadas durante nove meses, com a intenção de entender como novas habilidades eram transmitidas entre eles. Um experimento fascinante envolveu o aprendizado de um mecanismo de liberação de comida, onde um membro do grupo foi ensinado a usar uma caixa com dois tipos de acionamento. Após aprender, o animal demonstrou a técnica a outros membros do grupo, que então começaram a copiar o comportamento.
Contrariando as expectativas iniciais, os pesquisadores descobriram que ambos os grupos aprenderam a sacar a recompensa de maneiras diferentes, indicando uma diversidade no estilo de aprendizado social. Porém, a dinâmica do grupo também teve um impacto significativo: em um grupo mais coeso, onde um macho dominante estava presente, apenas 36,7% dos membros aprenderam a habilidade, em comparação com 57,5% no grupo maior e mais disperso.
Essas descobertas não apenas aprofundam nossa compreensão sobre o comportamento social dos macacos-prego, mas também abrem um novo campo de pesquisa sobre a evolução cultural entre os primatas. Isso nos leva a refletir sobre a complexidade das interações sociais e seu papel fundamental na aprendizagem, um aspecto que pode ressoar em outros contextos de comportamento animal e, quem sabe, até mesmo humano!