Ciência

Máscaras e Mortalidade por COVID-19: O Estudo que Pode Não Dizer a Verdade

2025-04-02

Autor: João

O uso de máscaras durante a pandemia de COVID-19 foi amplamente defendido como uma medida eficaz para reduzir a transmissão do vírus. No entanto, um estudo recente levantou polêmica ao sugerir que o uso de máscaras poderia estar associado a um aumento na mortalidade por COVID-19. Vamos entender o que há de errado com essa pesquisa.

O estudo comparou o excesso de mortalidade em 24 países europeus com a frequência autodeclarada de uso de máscaras pela população. Apesar de apresentar uma correlação entre essas variáveis, a análise ignora aspectos fundamentais sobre a natureza observacional da pesquisa. Uma correlação não implica em causalidade. Por exemplo, o fato de que tanto o número de mortes quanto a venda de sorvetes aumentam durante o verão não significa que o sorvete cause mortes.

Além disso, o estudo baseou suas conclusões em dados autodeclarados sobre o uso de máscaras. Isso levanta preocupações sobre a precisão das informações, uma vez que as pessoas podem superestimar sua adesão a medidas de proteção devido à pressão social. Fatores como a qualidade do uso da máscara – por exemplo, se estava sendo usada de forma correta – não foram considerados. Não adianta 100% da população dizer que usa máscaras se muitas delas não as utilizam corretamente.

Outro ponto crítico que o estudo deixou de lado é a falta de controle sobre fatores de confusão. Características dos sistemas de saúde nos diferentes países, como a capacidade de leitos de UTI e a gestão da pandemia, foram ignoradas. Esses fatores são cruciais para entender variações na mortalidade entre países e ter uma visão clara do impacto das medidas de saúde pública.

Por fim, a conclusão do estudo parece muito mais forte do que os próprios dados sugerem. Especialistas em saúde pública e epidemiologistas apontam que uma análise mais completa e rigorosa é fundamental para se chegar a verdades científicas sobre a eficácia das máscaras. Trabalhos anteriores já indicaram que o uso de máscaras não apenas protege contra COVID-19, mas também pode reduzir a transmissão de outras doenças respiratórias.

Esse estudo, assim como outros que questionam intervenções comprovadas em saúde pública, traz à tona o debate sobre a desinformação e o papel da ciência na formulação de políticas de saúde. A discussão está longe de acabar, e a necessidade de dados precisos e análises rigorosas se faz cada vez mais urgente em um mundo que ainda vive os desdobramentos da pandemia.