Maternidade Escola da UFRJ faz história com o primeiro parto de uma pessoa trans pelo SUS
2024-12-13
Autor: Fernanda
Na Maternidade Escola da UFRJ, um marco foi alcançado: Lucas, de 27 anos, se tornou o primeiro homem trans a dar à luz na instituição por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) ao realizar o parto de sua filha, Maria Cecília. Este ocorreu pelo programa Transgesta, uma iniciativa pioneira que assegura o cuidado especializado e respeitoso a gestantes trans, sublinhando a necessidade de um acompanhamento que leve em consideração a identidade de gênero e as especificidades de cada corpo.
Lucas compartilhou sua experiência positiva, destacando a importância do respeito em todo o processo, especialmente em relação ao uso correto dos pronomes.
— Eu me sinto muito privilegiado pelo tratamento que recebi aqui. Sinto que a Maternidade da UFRJ me acolheu da melhor maneira possível — afirmou Lucas antes de entrar em sala de parto, onde foi realizada uma cesariana.
Com um enfoque inovador, a Maternidade da UFRJ se tornou a segunda do Brasil a oferecer pré-natal especializado para pessoas trans, seguindo o exemplo da Maternidade Climério de Oliveira da UFBA. Ambas são instituições que integram a Rede Ebserh.
Cleudia Penha, mãe de Lucas, esteve presente durante toda a cesariana, expressando sua apreensão que prevaleceu durante a gestação.
— Fiquei preocupada no começo, questionando como seriam os cuidados com meu filho. Agora, após o parto, me sinto aliviada e feliz — disse Cleudia, emocionada ao segurar sua neta.
A equipe médica destacou o entusiasmo de Lucas durante a cesariana, que, mesmo sob anestesia, não parava de sorrir e agradecer a atenção que recebeu.
— É fundamental garantir um acompanhamento especializado para que a saúde mental e física da gestante seja respeitada durante todo o processo. A utilização de hormônios masculinizantes, por exemplo, não pode acontecer durante a gravidez, pois pode afetar o feto. Por isso, nossa ação é essencial — explicou a médica Penélope Marinho, gerente da maternidade.
O programa Transgesta, que foi inaugurado em agosto, acolhe não apenas homens trans, mas também travestis, pessoas não-binárias e outros grupos de identidades de gênero diversas. Isso garante que todas as necessidades de saúde sejam atendidas por uma equipe multidisciplinar que abrange psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e obstetras.
Para otimizar o atendimento, a maternidade introduziu um cartão pré-natal adaptado, que registra informações específicas sobre o usuário, como nome social e identidade de gênero, além de detalhar a situação da gestação.
O acesso ao atendimento é simples: qualquer interessado deve procurar a unidade básica de saúde mais próxima e, através do Sistema Estadual de Regulação ou do Sisreg, pode ser encaminhado à Maternidade Escola da UFRJ. Nos atendimentos, realizados às quintas-feiras pela manhã, a maternidade disponibiliza mais de 40 vagas semanais, garantindo que as necessidades dessa população sejam atendidas com dignidade e respeito.
Esse avanço é um passo significativo na luta pela inclusão de pessoas trans no sistema de saúde e uma vitória para a comunidade LGBTQIA+ no Brasil. Contudo, ainda há muitos desafios a serem enfrentados nesta batalha maior por direitos e reconhecimento.