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"Mayotte em ruínas": Insuportável relato da ilha devastada pelo ciclone Chido

2024-12-19

Autor: João

A tragédia se espalha pelo arquipélago francês de Mayotte, onde um ciclone devastador deixou um rastro de destruição sem precedentes. Moussa Hamidouni, um residente de um dos bairros mais vulneráveis, não hesita em afirmar: "Mayotte acabou". A cena que o rodeia é de total desolação, com ruínas, árvores derrubadas e pessoas tentando reerguer suas vidas entre os escombros.

Após a passagem do ciclone Chido, que atingiu a região com ventos superiores a 200 km/h, o cenário em La Vigie é desolador. Cabana após cabana foi literalmente arrancada do chão, e a paisagem natural, que outrora foi tão rica, agora se resume a troncos destroçados.

Moussa, um funcionário hospitalar de 44 anos, relata sua angustiante experiência ao tentar voltar para casa após a calamidade. "Quando cheguei perto de casa, não sabia onde estava", desabafa sobre a confusão e o desespero que sentiu ao ver sua comunidade reduzida a escombros. O caos é palpável, e o som de marteladas indica a luta daqueles que tentam salvar o que restou.

Com um cenário de devastação tão vasto, Moussa não consegue esconder sua preocupação: "Não é só o meu bairro. A devastação se espalha por toda Mayotte." Segundo dados preliminares do Ministério do Interior, o ciclone resultou em 31 mortes e mais de 1.373 feridos, embora os números reais possam ser ainda mais alarmantes.

Em La Vigie, as habitações precárias foram totalmente destruídas, deixando os moradores sem telhado e, em muitos casos, sem uma única posse. O lago que separa as partes do arquipélago agora pode ser visto claramente, evidenciando a perda que afetou milhares de vidas.

A sobrevivente Nasreddine Akilaby, funcionária da Cruz Vermelha, compartilha a dor sentida pela falta de árvores que anteriormente proporcionavam sombra e conforto ao calor intenso da ilha. Sua experiência durante o ciclone foi aterradora: seu filho de 8 anos se encolheu em posição fetal enquanto a casa entrava em colapso. "Foi como um terremoto", ela recorda, aliviada por não ter perdido a família, mas completamente ciente do sofrimento de seus vizinhos.

Com a chegada de famílias desabrigadas à casa de Nasreddine e Moussa, a situação só se agrava. Uma delas lamenta a perda de um ente querido, que foi fatídicamente atingido por uma árvore durante a tormenta. O desamparo é visível nos rostos daqueles que só querem recuperar um pedaço de suas vidas.

Um dos residentes, que vive em Mayotte há mais de quinze anos, destaca a dura realidade que muitos enfrentam: "Não tenho para onde ir". A população de Mayotte sofre com uma das taxas mais altas de pobreza da França, com 77% vivendo abaixo da linha da pobreza.

Entre os afetados, está Saída Asoumani Soubrata, uma jovem de 18 anos que, embora tivesse conseguido a autorização de residência, não pôde escapar do desastre. Sua situação é agravada pelo fato de que sua universidade parisiense não pôde ser um refúgio, e agora ela vive nas ruas, com colchões improvisados.

A realidade é cruel, e cada dia traz novas dificuldades. "Ao anoitecer, as lembranças dos gritos e dos choros ecoam na minha mente", desabafa Saída, evidenciando o trauma que o ciclone deixou em cada um dos habitantes de Mayotte. A luta por sobrevivência continua, mas a esperança parece estar se esvaindo neste cenário de apocalipse.