
Milei chama a polícia, mas recua em protesto de aposentados
2025-03-20
Autor: Fernanda
Em uma tentativa de evitar confrontos, o governo da cidade de Buenos Aires anunciou a retirada de caçambas e entulhos das ruas, após conflitos recentes durante manifestações de aposentados.
A repressão policial, segundo o governo, foi uma reação à violência dos "barras bravas", torcidas organizadas conhecidas por suas ações violentas e vínculos com o crime organizado. O apoio dos torcedores ao protesto se deu após um caso alarmante, onde um aposentado foi gravemente ferido pela polícia durante uma manifestação anterior.
No ato de hoje, os manifestantes expressaram suas reivindicações através de cartazes que pediam melhorias nas pensões, liberdade de manifestação e justiça para o fotógrafo Pablo Grillo, de 35 anos, que foi atingido por um projétil de gás lacrimogêneo enquanto fazia a cobertura policial. Grillo continua internado em estado crítico, e ontem, uma vigília de fotógrafos e jornalistas aconteceu em frente ao hospital na região metropolitana de Buenos Aires.
Maradona no Coração do Protesto
Embora as torcidas organizadas não tenham comparecido, muitos manifestantes trouxeram bandeiras e camisas estampadas com a imagem do ícone do futebol argentino, Diego Armando Maradona. O craque, que já foi visto lutando ao lado dos aposentados em anos anteriores, deixou uma frase marcante que ainda ressoa: "É preciso ser muito covarde para não defender os aposentados." Muitos também ergueram bandeiras da seleção argentina, reforçando o sentimento de união entre os protestantes.
Na multidão, cartazes chamavam a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, de "ministra de insegurança" e de fascista, em protesto contra um controverso protocolo que permite repressão policial a manifestações.
Entre os manifestantes estava Mônica, uma aposentada que segurava um cartaz em apoio a Grillo e reclamou da sua aposentadoria mínima de cerca de R$ 1.500: "Venho todas as quartas-feiras para lutar por nossos direitos. Não podemos perder a liberdade de nos manifestar", declarou.
Conflitos pontuais foram registrados pela reportagem, com alguns manifestantes se agitando em direção aos policiais que formavam uma barreira em frente ao palácio legislativo. As lideranças do movimento pediam calma, tentando evitar maiores confrontos, mas a polícia respondeu com bombas de gás de pimenta e gás lacrimogêneo.
Além dos aposentados, dezenas de organizações sociais e sindicatos participaram do ato, assim como estudantes, todos em defesa do direito de protestar. O clima de medo foi palpável entre alguns manifestantes. Oscar, um aposentado de 70 anos, comentou: "Estou com medo, mas essa é a intenção do governo: que tenhamos medo e não lutemos por nossos direitos. Porém, medo e dinheiro, nós, argentinos, nunca tivemos", referindo-se a uma famosa expressão do movimento.
Tensão no Congresso Nacional
Enquanto do lado de fora os ânimos eram elevados, o interior do Congresso Nacional estava em clima tenso. Após o governo de Javier Milei conseguir aprovar um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) que permite novas negociações de crédito com o FMI, a tensão aumentou. Desde que a Argentina assumiu uma dívida bilionária sob o governo de Mauricio Macri, um rígido controle foi estabelecido para novos empréstimos, exigindo aprovação legislativa.
O presidente Milei, respaldado pelo ex-presidente Macri, agradeceu aos deputados pela aprovação do decreto, afirmando que reconheceram a vontade popular e contaram que a luta contra a inflação é uma prioridade de Estado. Segundo informações da Casa Rosada, o acordo permitirá uma operação de crédito que resultará na quitação da dívida com o Banco Central Argentino, reduzindo assim a totalidade da dívida pública.
Para acelerar o processo, Milei decidiu assinar um decreto presidencial, o que resultou em aprovação por maioria simples na Câmara dos Deputados, evitando a necessidade de passar pelo Senado. A votação foi marcada por gritos e discussões acaloradas, resultando em 129 votos a favor e 108 contra, além de seis abstenções.
Entretanto, a falta de detalhes sobre o novo acordo com o FMI gerou a preocupação entre os oposicionistas, que classificaram o decreto como um "cheque em branco" dado ao Executivo, alimentando ainda mais as tensões entre governo e oposição.