Milei Revela Crise: Acusa Vice de Alinhamento com a Esquerda e Isolamento no Governo
2024-11-23
Autor: Fernanda
O presidente argentino, Javier Milei, expôs um racha significativo em sua administração ao afirmar que sua vice-presidente, Victoria Villarruel, "não tem nenhuma ingerência na tomada de decisões" do governo e que está ausente das reuniões de gabinete.
Durante uma entrevista reveladora, Milei afirmou que Villarruel está "próxima do círculo vermelho", um termo que ele usa para se referir a seus supostos adversários de esquerda, e da chamada "casta", ou os políticos tradicionais. Esse desentendimento acentua as tensões dentro de uma administração já marcada por polêmicas.
Villarruel, que tem raízes em uma família militar, representa uma visão controversa da história argentina, defendendo que a ditadura militar (1976-1983) foi uma "guerra" contra o comunismo—a opinião dela é contestada por muitos historiadores. Apesar de sua posição como vice-presidente, Villarruel tem sido acusada de se afastar dos decisores no governo de Milei, que recentemente declarou que seu relacionamento com a vice é "meramente institucional".
Com um cenário político complexo, é importante notar que a vice-presidência também envolve o cargo de presidente do Senado, uma função crucial, especialmente porque Milei não possui a maioria nas casas do Congresso. Tal situação levanta preocupações sobre a governabilidade e a capacidade de implementar reformas.
As relações pessoais de Milei também foram alvo de crítica, especialmente em comparação com outras lideranças globais. Enquanto o presidente brasileiro Lula mantém uma cordialidade com figuras como Biden, Macron e Xi Jinping, Milei parece estar em conflito com a comunidade internacional, o que pode complicar as dinâmicas diplomáticas da Argentina.
Além disso, a proximidade de Villarruel com questões polêmicas não ajuda na sua imagem. Em julho, ela foi alvo de críticas por defender jogadores argentinos que entoaram cânticos racistas, levando a uma repercussão negativa e à necessidade de pedidos de desculpas em nome do governo por sua irmã, Karina Milei, que ocupa uma posição chave na administração.
Victoria Villarruel, filha de um tenente-coronel do Exército e neta de um contra-almirante da Marinha, tem uma ligação profunda com a tradição militar do país. Ela é fundadora e presidente de uma associação que busca reexaminar o legado da ditadura, chamada Centro de Estudos Legais sobre o Terrorismo e suas Vítimas (CELTYV), e tem sido rotulada como uma "negacionista" pelos grupos de direitos humanos devido a suas posturas sobre o regime militar.
O Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça, realizado em 24 de março, é uma data simbólica que reflete as feridas abertas pelo passado autoritário argentino, e a insistência de Villarruel em valorizar os "combatentes contra o comunismo" contrasta fortemente com o discurso e a memória coletiva da sociedade.
Neste clima de incerteza e divisão, a Argentina observa se essa disputa interna pode impactar as políticas e o futuro político de Milei, um presidente que já gerou controvérsias em sua curta trajetória.