
Milho: De Primo Pobre a Rei da Festa Agrícola
2025-04-08
Autor: Carolina
O agricultor Pedro Ottoni, residente em Uberaba, está com os olhos fixos tanto no pluviômetro quanto nas oscilações do preço do milho. Com formação em Engenharia Agronômica, Ottoni acredita que as próximas semanas serão cruciais para o sucesso das suas lavouras de milho na EccoAgro. “Esperamos colher entre 180 a 200 sacas por hectare, o que representa entre 10 a 12 toneladas. Porém, o clima se tornou cada vez mais errático e já não é possível confiar na previsão meteorológica”, desabafa o produtor.
O cenário climático, com a falta de chuvas em fevereiro e altas temperaturas, trouxe dificuldades para o plantio do milho no Triângulo Mineiro, especialmente atrasando a colheita da soja, que, devido a condições climáticas adversas, impactou o ciclo de produção.
Ottoni explica que cada dia de atraso no plantio reduz a produtividade do milho em duas sacas por hectare. O jovem agricultor faz parte da sexta geração de sua família dedicada à agricultura, começando com seus ancestrais que cultivavam em Portugal antes de se estabelecerem em Minas Gerais.
Devido ao clima, Ottoni teve que reduzir drasticamente sua área plantada de milho, de 250 para 150 hectares. Ele optou por utilizar áreas irrigadas, tradicionalmente dedicadas ao cultivo de trigo e cenouras em outras épocas do ano, como uma solução alternativa.
A preocupação com a produção de milho vai além de Ottoni; frigoríficos e indústrias alimentícias estão de olho na safrinha do grão, que representa 78% da produção anual. Segundo Samuel Isaak, analista de commodities da XP, “um problema na safrinha fará com que o preço do milho se mantenha alto o ano todo,” o que impactará todo o setor agrícola.
As projeções da Conab para 2025 estimam uma produção de 122,7 milhões de toneladas, englobando as três safras anuais, com regiões como o Nordeste, onde a irrigação permite três ciclos de produção. O milho é um dos produtos mais democráticos da agricultura brasileira, adaptando-se a diferentes climas do Norte ao Sul do país e sendo cultivado em diversas escalas, desde grandes propriedades até pequenas, com impactos diretos na produtividade.
Atualmente, a produtividade média no Brasil é de 5.800 quilos por hectare, mas as propriedades que utilizam tecnologia avançada conseguem dobrar esse rendimento. O crescimento da produção de milho no Brasil tem sido explosivo desde 2011, quando a produção saltou de 50 milhões para atuais 120 milhões de toneladas, impulsionada principalmente pelo milho safrinha, que é semeado logo após a colheita da soja entre fevereiro e março.
O termo “safrinha” é considerado por alguns como pejorativo; muitos preferem se referir a esse ciclo como a segunda safra. Outro fator a se considerar é que, apesar do crescimento, o milho ainda é eclipsado pela soja, que atinge preços dobros em comparação. O presidente da Associação dos Produtores de Milho, Paulo Bertolini, observa que “durante a colheita da soja, há uma grande pressão sobre os armazéns, e muitos produtores acabam se desfazendo do milho, prejudicando os estoques para a entressafra.”
Contudo, o milho está galgando novas alturas no setor agropecuário. O aumento demanda por proteína animal e a crescente instalação de usinas de etanol a partir do milho têm elevado o interesse pela commodity. Na safra passada, cerca de 17 milhões de toneladas foram destinadas às usinas. Há atualmente 25 biorrefinarias em operação no Brasil, com 10 projetos autorizados e outros 20 anunciados.
Um estudo recente prevê que, até 2030, a demanda por milho para produção de etanol pode chegar a 39 milhões de toneladas, mesmo com algumas dificuldades enfrentadas em projetos por conta da competitividade no setor. Bertolini conclui afirmando: “O Brasil tem o potencial de se tornar o país do milho, superando a produção de soja.” Portanto, fique atento: o milho pode ser o protagonista inesperado do agronegócio brasileiro!