Moradores da Rocinha enfrentam horrores: abusos e mortes em operação policial
2024-12-19
Autor: Mariana
Na tarde de terça-feira, a Rocinha foi palco de uma operação policial que deixou moradores em estado de choque. Testemunhas relataram execuções, invasões a residências e furtos, com cenas de destruição por disparos de arma de fogo em comércios locais e até paredes residenciais. A população, desesperada, se apressava para limpar os estragos, varrendo cápsulas de bala deixadas pelo chão.
A ação foi iniciada às 4h da manhã, com o objetivo de capturar membros do Comando Vermelho que fugiam de outros estados, especialmente do Ceará e Goiás. As autoridades afirmam que muitos deles se dispersaram para outras áreas dominadas pela facção criminosa.
Nove escolas e várias unidades de saúde foram fechadas, deixando os moradores trancados em suas casas, o que impediu muitos de ir ao trabalho. A reportagem também tentou entrar em contato com a Polícia Militar, a Polícia Civil e o Ministério Público sobre os relatos de abusos, mas as respostas foram escassas.
Em um comunicado, a PM declarou que enfrentou tiro de criminosos armados e confirmou a prisão de dois homens, além da apreensão de mais de 400 kg de maconha, 35 kg de cocaína e uma simulação de uma AK-47.
Tragédia na operação
Vitor dos Santos Lima, de 24 anos, foi morto ao ser atingido por um tiro no queixo, com a bala saindo pela nuca. A polícia informou que ele era segurança de John Wallace da Silva Viana, conhecido como Johnny Bravo, um dos líderes do CV na Rocinha. Um vídeo antigo nas redes sociais mostra Vitor armado, mas seus familiares afirmam que ele havia deixado a vida criminosa e trabalhava em um pequeno negócio montado por sua mãe.
Sua namorada, Nathalia Amaral Teixeira, descreve a morte de Vitor como um ato de covardia, já que ele estava desarmado e não reagiu. A PM confirmou que ele foi encontrado sem vida e a Delegacia de Homicídios já foi acionada. Nathalia relata que há um padrão de narrativas distorcidas sobre Vitor, como uma tentativa de justificar um erro da operação policial.
PM sem câmeras
Um vídeo gravado pelo advogado Alberico Montenegro revelou que muitos PMs do Bope não estavam usando câmeras corporais, desrespeitando as diretrizes do STF. Em uma gravação, um policial admitiu que a operação foi realizada sem o equipamento, enquanto em outras áreas da favela, policiais estavam devidamente equipados.
Moradores impactados
Nos becos da Rocinha, relatos de moradores sobre invasões em suas casas não são incomuns. Muitos afirmam que policiais entraram sem mandados e levaram pertences. Uma moradora ficou indignada ao ouvir um policial brincar: 'obrigado, Rocinha, por fazer meu Natal mais feliz'. Outra mulher teve sua casa revirada e itens novos, como uma caixa de música, foram roubados.
William de Oliveira, ativista social, planeja levar os relatos de abusos da Rocinha à OAB e outras instituições. Ele destaca que o verdadeiro sucesso de uma operação é quando não há moradores feridos ou reclamações. Segundo um estudo da UFF, apenas 1,4% das operações policiais no Rio se mostraram realmente eficazes.
Paulo Henrique Lima, procurador-geral da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, também esteve na Rocinha e descreveu a cena como 'um cenário de guerra', alertando para as graves violações de direitos humanos. Ele se comprometeu a formalizar suas observações e enviá-las ao Ministério Público e ao STF.
O estado de apreensão e tristeza na Rocinha é palpável, e com as histórias de violência e medo, a comunidade se questiona: até quando será preciso viver assim?