Jean-Marie Le Pen, o polêmico líder da extrema direita na França, faleceu aos 96 anos em uma casa de repouso onde estava internado devido a problemas de saúde. Sua morte ocorreu ao meio-dia, horário local, cercado pela família, conforme confirmou uma nota à AFP.

Le Pen foi uma figura polarizadora, reconhecido por seus discursos abertamente racistas e opiniões extremistas sobre questões de gênero e imigração. Ele se lançou na corrida pela Presidência da França cinco vezes, todas sem sucesso, com sua última tentativa em 2007.

Em 1972, fundou a Frente Nacional, agora conhecida como Reunião Nacional (RN), partido que inicialmente congregou neofascistas e que, com o tempo, tentou moderar sua imagem. Apesar das mudanças, o partido ainda carrega forte estigma de ideais anti-imigração e nacionalistas.

O ex-líder também enfrentou diversas acusações de antissemitismo e xenofobia ao longo de sua vida. Um dos casos mais notórios ocorreu em 1990, quando foi condenado e multado por minimizar o Holocausto, referindo-se ao uso de câmaras de gás como "um detalhe" da Segunda Guerra Mundial, o que provocou amplo descontentamento em toda a sociedade francesa.

Em 2015, um conflito familiar culminou na expulsão de Le Pen do partido por sua filha, Marine Le Pen, que na época presidia a RN. A rixa se acentuou após declarações de Jean-Marie sobre suas opiniões do Holocausto, levando-o a alegar traição por parte da filha. Essa divisão marcou um ponto de ruptura na história da política francesa.

Recentemente, ele e membros da família foram acusados de irregularidades no uso de verbas destinadas a assistentes parlamentares da União Europeia, economizando dinheiro que deveria ser aplicado em atividades políticas regulares. A filha Marine está atualmente em julgamento, com uma sentença programada para ser divulgada em março de 2024.

Enquanto isso, sua filha, Marine Le Pen, estava em Mayotte, um território francês que sofre as consequências devastadoras do ciclone Chido, onde várias vidas foram perdidas e a população enfrenta uma crise humanitária.

O presidente da França, Emmanuel Macron, fez uma breve declaração lamentando a morte de Le Pen, destacando sua presença histórica na política do país ao longo de quase 70 anos. Ele afirmou: "Uma figura histórica da extrema direita, ele desempenhou um papel na vida pública de nosso país; agora, cabe à história julgar seu legado."

Jordan Bardella, novo presidente do Reunião Nacional, também lamentou a partida de Le Pen, reconhecendo suas experiências como veterano de guerras na Indochina e na Argélia e seu papel na defesa da identidade e soberania francesa.

Jean-Marie Le Pen nasce em 20 de junho de 1928, em La Trinité-sur-Mer, França. Ele foi um político carismático que utilizava sua retórica para galvanizar o apoio popular por décadas. Seu discurso frequentemente remetia a um ideal de França pura, vendo a imigração como uma ameaça à sua visão do país.

Le Pen, que também lutou como soldado e era conhecido por sua oratória contundente e frases de efeito, como: "Se eu avançar, me sigam; se eu morrer, vinguem-me; se eu me esquivar, me matem", deixou uma marca indelével na política francesa. Sua trajetória culminou em 2002, quando surpreendentemente chegou ao segundo turno das eleições presidenciais, sendo derrotado por Jacques Chirac com uma diferença acachapante.

O legado de Jean-Marie Le Pen continua a dividir opiniões e a influência de suas ideias ainda ecoa na política contemporânea na França.