Minas Gerais se destaca como um dos estados mais vulneráveis do Brasil em meio às rápidas mudanças climáticas, conforme aponta um novo estudo do Instituto Trata Brasil. A pesquisa revela os impactos de fenômenos como tempestades intensas, ondas de calor e secas severas nos sistemas de abastecimento de água e saneamento da região.

O cenário indicado no relatório é alarmante: 78% dos municípios mineiros enfrentam alto ou muito alto risco de tempestades extremas. Cidades em áreas como a Zona da Mata e o Sul do estado estão cada vez mais sujeitas a chuvas prolongadas que podem durar até cinco dias consecutivos. Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, alerta que a estrutura atual de abastecimento de água precisa ser fortalecida para evitar sérios impactos na população.

As tempestades não apenas causam infiltrações e estragos, mas também acumulam sedimentos nos mananciais, dificultando o tratamento de água. Isso compromete a potabilidade e pode deixar milhares de pessoas sem acesso a água potável, especialmente em regiões vulneráveis, onde a infraestrutura é precária.

Entre os fenômenos analisados, as ondas de calor também se destacam como uma ameaça significativa. O estudo prevê que 58% dos municípios mineiros sofrerão graves impactos no fornecimento de água devido ao aumento da evapotranspiração e à demanda elevada durante os períodos de calor extremo. Espera-se que até 2050, Minas Gerais experimente até nove ondas de calor adicionais por ano, pressionando ainda mais os sistemas de abastecimento.

Ronaldo Serpa, superintendente da Copasa, reconhece a preocupação com as consequências de eventos climáticos extremos na oferta de água. As áreas do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha, que já sofrem com longos períodos de estiagem, podem enfrentar até 30 dias a mais sem chuvas anualmente.

A crise hídrica que assolou Minas em 2015, quando o sistema de abastecimento operava com menos de 40% de sua capacidade, serve como um lembrete sombrio do que pode vir a seguir. Durante esse período, rios secaram e 20 mil famílias perderam o acesso a fontes de água potável.

As desigualdades no acesso à água e saneamento são acentuadas com a intensificação das mudanças climáticas. Regiões rurais e periféricas frequentemente carecem de infraestrutura adequada, tornando-as ainda mais vulneráveis. Durante tempestades, falhas no esgoto contaminam ambientes, aumentando os riscos de doenças entre a população.

O Instituto Trata Brasil enfatiza a necessidade de um planejamento eficaz e da implementação imediata de políticas públicas que visem mitigar os efeitos das mudanças climáticas, especialmente em regiões vulneráveis. A modernização das infraestruturas e o controle rigoroso da distribuição de água são urgentes.

Experts alertam que apenas a conscientização e a aplicação rigorosa das leis ambientais são capazes de reverter essa situação crítica. A implementação prática das normas já existentes pode fazer toda a diferença na luta contra os efeitos devastadores das mudanças climáticas em Minas Gerais.