Saúde

Mulheres Autistas e o Mercado de Trabalho: O Que Ninguém Fala!

2025-04-02

Autor: Ana

O autismo feminino ainda luta contra a invisibilidade na sociedade e, principalmente, no ambiente de trabalho. Por muitos anos, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi erroneamente associado predominantemente aos homens, resultando em subdiagnóstico e falta de suporte para mulheres autistas.

No cenário profissional, essa falta de compreensão traz à tona uma série de desafios, desde a dificuldade de obter um diagnóstico preciso até a exigência de adaptação a normas sociais e pressões culturais do mercado.

As Particularidades do Autismo em Mulheres

Estudos científicos têm mostrado que o autismo em mulheres pode se manifestar de maneiras distintas em comparação aos homens, dificultando o diagnóstico. Vários pesquisadores indicam que o reconhecimento do autismo feminino está crescendo, com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) apontando uma redução na proporção de meninos para meninas diagnosticados: de 4,7:1 em 2012 para 3,8:1 em 2023. Surpreendentemente, a taxa de autismo em mulheres superou 1% pela primeira vez na história.

Muitas mulheres autistas desenvolvem estratégias de camuflagem social para se encaixar nas expectativas sociais, escondendo suas dificuldades e tornando-se invisíveis em sua condição de neurodiversidade. Isso pode levar a sérios problemas de saúde mental, como exaustão, ansiedade e depressão, especialmente em ambientes que valorizam desempenho e interação social.

O Impacto do Diagnóstico Tardio

O diagnóstico tardio é uma realidade para muitas mulheres autistas. Segundo o Mapa Autismo Brasil, cerca de um terço delas recebe o diagnóstico somente após os 20 anos, enquanto menos de 10% dos homens recebem esse mesmo diagnóstico tardiamente. Tal atraso no reconhecimento prejudica o acesso a oportunidades de formação e emprego, além de dificultar a implementação de políticas inclusivas nas empresas.

Isso se traduz em dificuldades em processos seletivos que priorizam habilidades interpessoais, sem considerar que as pessoas no espectro podem precisar de mais tempo para processar informações e responder. Além disso, ambientes profissionalmente desafiadores, com iluminação intensa e barulho constante, podem afetar o bem-estar e a performance das mulheres autistas.

Um Mercado de Trabalho Ainda Excludente

A realidade da inclusão de autistas no mercado ainda deixa muito a desejar. No Reino Unido, apenas 29% dos adultos autistas estão empregados, e nos Estados Unidos, esse número é em torno de 38%. Os dados sugerem que a situação é ainda mais complicada para mulheres autistas.

A falta de compreensão e suporte torna a adaptação às rotinas de trabalho extremamente difícil, fazendo com que muitas mulheres se sintam obrigadas a conformar-se a padrões neurotípicos, o que frequentemente resulta em aumento da ansiedade e até burnout.

Rumo à Inclusão Eficaz

Para que o mercado de trabalho seja verdadeiramente inclusivo para mulheres autistas, é imprescindível que empresas adotem práticas de acolhimento e acessibilidade. Processos seletivos precisam ser reformulados para serem mais acessíveis e menos baseados nas interações sociais tradicionais. Estruturar entrevistas com perguntas enviadas previamente pode fazer uma grande diferença.

Outra ação essencial é a criação de ambientes de trabalho adaptáveis, com iluminação adequada, redução de ruídos e flexibilização de espaços. Além disso, promover treinamentos para lideranças e equipes sobre neurodiversidade ajudaria a aumentar a conscientização sobre as particularidades do autismo feminino.

Mudar a forma como se enxerga a neurodiversidade nas empresas é uma necessidade urgente. O talento das mulheres autistas não deve ser desperdiçado por falta de compreensão ou adaptação. O verdadeiro objetivo deve ser a criação de espaços onde a autenticidade e a diversidade de pensamento sejam reconhecidas e valorizadas.

Estamos a um passo de transformar o mercado de trabalho em um ambiente verdadeiramente inclusivo, mas essa mudança exigirá coragem e compromisso de todos nós.