Saúde

'Nasci Sem Útero, Recebi Transplante da Minha Irmã e Agora Posso Tentar Ser Mãe'

2024-10-11

Autor: Pedro

Desde jovem, Jéssica Borges enfrentou uma batalha silenciosa. Aos 16 anos, foi diagnosticada com a síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser, que a deixou sem útero. O impacto do diagnóstico foi forte; 'me senti estranha e com medo', confessa. No entanto, o apoio psicológico que recebeu foi crucial para lidar com a nova realidade.

Durante anos, ela procurou forças em grupos de apoio nas redes sociais, onde ouviu sobre os estudos do Hospital das Clínicas de São Paulo que realizavam transplantes de útero. O sonho de se tornar mãe sempre a acompanhou e, quando recebeu a notícia de que tinha sido aprovada para o transplante, a felicidade foi indescritível.

A irmã de Jéssica, Jaqueline, não hesitou em oferecer-se como doadora. "Sempre soube do desejo dela de ser mãe e fiquei muito feliz por poder ajudar", disse ela. O transplante foi realizado no Hospital das Clínicas da FMUSP em 17 de agosto, após meses de preparativos que incluíram exames rigorosos para garantir a compatibilidade.

As cirurgias trouxeram desafios significativos. Para Jaqueline, a dificuldade foi preservar os órgãos ao redor do útero e a retirada dos vasos sanguíneos necessários. Na condição de receptora, Jéssica enfrentou complicações na conexão dos vasos sanguíneos durante sua cirurgia. O médico responsável, Dani Ejzenberg, destacou a complexidade do procedimento.

A medicina avançada se mostrou vital neste processo, pois o Brasil ainda não possui regulamentação para transplante de útero, ao contrário de países como a Suécia, onde a técnica é rotina. Contudo, Jéssica possui ovários saudáveis, permitindo a coleta de óvulos para fertilização in vitro antes do transplante. Com 11 embriões congelados, ela tem grandes esperanças. A primeira tentativa de implantação deve ocorrer em seis meses.

As boas notícias não param: Jéssica recentemente teve seu primeiro ciclo menstrual após o transplante, um sinal animador. "A recuperação foi ótima, e a expectativa de sentir meu filho dentro de mim é imensa. Eu devo isso aos médicos e à minha irmã", relata emocionada.

De acordo com Ejzenberg, a taxa de sucesso para nascimentos a partir de transplante de doadora viva é de aproximadamente 80%, o que inspira esperanças. "Estamos planejando realizar mais transplantes, tanto de doadoras falecidas quanto de doadoras vivas, seguindo modelos que apresentam sucesso em outros países", destaca.

A luta de Jéssica é um testemunho do amor e da resiliência, mostrando que, mesmo diante dos desafios mais difíceis, a esperança e o apoio familiar podem fazer toda a diferença na busca pelo sonho da maternidade.