Novo líder da Síria gera polêmica ao pedir que mulher se cubra para foto
2024-12-21
Autor: Gabriel
Ahmed al-Sharaa, o recém-empossado líder da Síria, provoca controvérsias sobre sua imagem de moderado ao solicitar que uma mulher cobrisse os cabelos antes de tirarem uma foto juntos durante sua visita a um distrito de Damasco na última terça-feira, 10.
Um vídeo que circula intensamente nas redes sociais mostra Sharaa gesticulando enquanto uma jovem, Lea Kheirallah, se aproxima para pedir a fotografia. A mulher, ao ouvir o pedido, rapidamente puxa um capuz e posa ao lado do líder sírio.
Kheirallah declarou que não se sentiu incomodada com a solicitação, afirmando que ele fez o pedido de forma "gentil e paternal" e que ele tem o direito de decidir como quer ser apresentado. Na sua defesa, Sharaa comentou: "Eu não a forcei, mas esta é a minha liberdade pessoal. Quero fotos tiradas da maneira que me convém." Ele também enfatizou que sua atitude é um reflexo das normas culturais locais e não uma imposição legal.
Esse incidente levantou preocupações sobre a possível implementação da lei islâmica em sua administração, conhecida como sharia, que normalmente demanda que os homens se cubram da barriga aos joelhos, enquanto as mulheres devem se cobrir completamente, geralmente exibindo apenas o rosto, mãos e pés.
Os analistas fazem paralelos com o regime do Talibã no Afeganistão, que também alegou respeitar os direitos das mulheres dentro de uma estrutura religiosa, embora na prática tenha limitado essas liberdades severamente. A ONU, por exemplo, descreveu a situação das mulheres afegãs como um "apartheid de gênero" após a reassunção do poder pelo Talibã em 2021.
Além disso, muitos têm questionado a credibilidade das promessas de moderação de Sharaa, principalmente com os relatos de seu passado ao lado de organizações extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico. Antes de fundar a HTS (Organização para a Libertação do Levante) em 2017, ele havia liderado grupos que defendiam uma interpretação rígida da religião.
Com a criação de sua nova administração, Sharaa tem tentado se distanciar desses rótulos extremistas. Recentemente, em uma entrevista à CNN, ele argumentou que a percepção de um governo islâmico opressivo se baseava em interpretações equivocadas e prometeu respeito pela diversidade religiosa e instituições do país. Ele afirmou: "Ninguém tem o direito de apagar outro grupo."
Asaad Hassan al-Shibani, novo ministro das Relações Exteriores e formado pela Universidade de Damasco, é um dos responsáveis por angariar apoio internacional. Ele já tinha atuado anteriormente em um governo rebelde em Idlib, e sua nomeação pode indicar um esforço para construir uma imagem mais conciliadora do novo governo.
Este episódio reforça uma crescente inquietação acerca do futuro da Síria sob a liderança de Sharaa e o temor de que valores mais conservadores possam prevalecer, afastando ainda mais o país dos princípios de pluralidade e direitos humanos que a comunidade internacional luta para proteger.