No coração do nosso planeta, existe uma esfera sólida de metal, composta principalmente de ferro e níquel, rodeada por uma camada externa de metal em estado líquido. Essa estrutura forma o núcleo da Terra, e estudos recentes trouxeram à tona a ideia surpreendente de que os limites que mantêm essa 'coração' podem ser mais flexíveis do que se pensava anteriormente.

Veja o que torna essa descoberta tão fascinante:

1. O núcleo está transfundindo isótopos de ferro em interação com o manto terrestre.

2. Experimentos científicos indicam que isótopos mais pesados apresentam tendência a migrar para regiões de temperaturas mais baixas.

3. Esse hipotético 'vazamento' de ferro do núcleo para o manto pode estar ocorrendo há bilhões de anos, chamando a atenção de especialistas.

4. Assim como a água da superfície se infiltra nas profundezas da Terra, os minerais no manto, como a ringwoodita, armazenam essa água.

5. Estima-se que o volume total de água que se encontra no manto terrestre pode ser até três vezes maior do que todo o volume dos oceanos da superfície.

Uma pesquisa publicada em 2020 na renomada revista Nature Geoscience revelou que isótopos de ferro estão conseguindo migrar do núcleo para o manto, que começa a aproximadamente 2.900 km abaixo da superfície. Embora seja impossível coletar amostras diretas desse manto devido à extrema profundidade, os cientistas desenvolveram experimentos em laboratório que recriam as condições encontradas lá embaixo, utilizando temperaturas superiores a 2.000°C e altas pressões.

Os resultados desses experimentos indicam que os isótopos de ferro se deslocam conforme a temperatura do ambiente muda. Isto sugere que parte do ferro que compõe o núcleo da Terra pode estar 'vazando' para o manto há bilhões de anos. Charles Lesher, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, acrescentou: “Se isso for confirmado, significa que o núcleo da Terra está interagindo com o manto por muito mais tempo do que imaginávamos.”

Além disso, a Terra também apresenta um movimento inverso, onde materiais provenientes da superfície são transportados para as profundezas, um processo que ocorre devido à atividade tectônica. Um exemplo interessante é a presença de água no manto. Em 2014, cientistas descreveram que a zona de transição do manto, entre 410 e 660 km de profundidade, abriga um mineral chamado ringwoodita, que consegue armazenar água em sua estrutura cristalina.

As estimativas sugerem que, se apenas 1% dessa área armazenar água, isso equivaleria a até três vezes o volume dos oceanos da Terra. Essas descobertas revolucionárias reforçam a teoria de que a maior parte da água do planeta pode estar retida no interior da Terra, longe de nossos olhos.

Assim, nos deparamos com um planeta em constante transformação, onde materiais essenciais estão em um ciclo contínuo entre as profundezas e a superfície, criando um delicado equilíbrio que molda a evolução geológica da Terra. O que mais será que os cientistas descobrirão sobre este grande mistério que habitamos?