Saúde

Número de moradores em situação de rua cresce em BH; 10% deles dependem de restos e doações

2025-03-24

Autor: Pedro

Em um cenário alarmante, Belo Horizonte enfrenta um aumento significativo no número de moradores em situação de rua. Ademílson Santos, de 42 anos, vive em uma tábua de madeira improvisada, usando pequenos paus para cozinhar em um fogão feito de tijolos e pedras. Ele revela a dura realidade de quem vive nessas condições: é preciso comer o que se consegue, quando se consegue, mesmo que isso signifique consumir alimentos ultraprocessados.

As estatísticas mais recentes, divulgadas em 2024, indicam que a população de rua em Belo Horizonte era de aproximadamente 5.300 pessoas em 2022, mas a coordenadora da Pastoral de Rua da Arquidiocese de BH, Claudenice Rodrigues Lopes, afirma que o número provavelmente é muito maior atualmente. A instituição, que atendia de cinco a sete novas pessoas por semana em 2022, agora recebe em torno de dez novos indivíduos toda semana.

O último Censo da População em Situação de Rua revelou que 10% dos entrevistados dependem de doações e restos de alimento para sobreviver. Alarmantemente, 7,2% estão acostumados a pedir comida nas ruas, enquanto 3,2% dependem da coleta de restos de alimentos em locais públicos.

Ademílson, que perdeu as pernas em um acidente, agora se locomove em uma prancha de madeira, o que mostra sua incrível força e resiliência. Ele e sua companheira, Bruna Rafaela, de 28 anos, têm dificuldades para encontrar alimentos e vivem numa maloca em uma praça. Bruna cuida das refeições, que muitas vezes são limitadas a doações variando de alimentos frescos a itens estragados.

Os desafios alimentares enfrentados por este grupo vulnerável têm implicações diretas na saúde física e mental. A nutricionista Melissa Luciana de Araújo explica que a desnutrição não só prejudica o sistema imunológico, mas também pode levar a condições como depressão, hipertensão e maior vulnerabilidade a doenças.

Luiz Gustavo, de 36 anos, que vive nas ruas desde os 12, menciona não apenas a dificuldade para dormir, mas também o desgosto ao ver alimentos sendo desperdiçados. "É triste ver pessoas jogando comida boa fora. Isso realmente me faz refletir sobre a realidade", diz ele.

Os restaurantes populares em BH são a principal alternativa alimentar para esses moradores, com cerca de 50% dependentes desse recurso. Apesar de oferecerem uma refeição a baixo custo, muitos enfrentam longas filas e dificuldades de acesso devido à distância. A prefeitura reconhece os desafios em atender essa população e tem trabalhado em iniciativas para melhorar o acesso à alimentação, mas é inegável que ainda há muito a ser feito.

Recentemente, foram introduzidas cozinhas comunitárias na cidade, com o objetivo de distribuir mais de 350 refeições diárias e expandir para outras regiões. Histórias como a de Jorge Comper Santana, que superou dificuldades e teve acesso à moradia e à saúde, mostram que, apesar dos obstáculos, é possível reverter a situação com apoio e políticas públicas adequadas.

Em um momento em que a desigualdade social é evidente, a necessidade de união entre governo, iniciativa privada e sociedade civil é mais urgente do que nunca para garantir a dignidade e a segurança alimentar de todos os cidadãos, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade.