Professor de endocrinologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e investigador principal do OCRC (Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades), Bruno Geloneze expôs em uma recente palestra a real dificuldade de manter o peso após emagrecer, especificamente durante as festas de fim de ano. O assunto surgiu em um simpósio da Abeso, onde Bruno Halpern, presidente da associação, destacou estudos que mostram o impacto do excesso de calorias nas festas de final de ano.

Pesquisas indicam que entre 20% e 50% do peso que se perde durante um período de dieta pode ser recuperado durante as comemorações de Natal e Ano Novo. Surpreendentemente, essa recuperação pode resultar em um ganho de 2 a 10 quilos ao longo de uma década se o padrão se repetir anualmente. Isso acontece porque as festividades frequentemente levam as pessoas a relaxarem na disciplina alimentar, resultando em várias gramas a mais a cada ano.

O impacto das festas foi ilustrado por um estudo realizado nos Estados Unidos, onde 195 adultos saudáveis foram pesados em quatro ocasiões ao longo de um ano. O resultado mostrou uma média de ganho de apenas 370 gramas durante a temporada festiva de novembro e dezembro, que aumentava para 480 gramas quando incluídas as férias de janeiro. Curiosamente, os participantes inicialmente estimaram que ganhariam em média 2 quilos, mas a maioria ficou abaixo dessa previsão.

Embora muitos tenham conseguido perder peso nos meses seguintes, em setembro do ano seguinte, muitos ainda estavam com 223 gramas a mais. Além disso, houve participantes que mantiveram todo o peso ganho. Estudos em animais indicam que repetidas oscilações de peso podem causar inflamações no hipotálamo, área do cérebro responsável pelo metabolismo, aumentando a tendência a ganhar peso ao longo do tempo.

Múltiplas pesquisas corroboram essas conclusões. Um estudo realizado na Universidade de Sonora, no México, descobriu que o ganho médio de peso durante as festas fica entre 400 e 900 gramas. Outro estudo da Tufts University revelou que 51% do peso ganho em um ano pode ser atribuído às festividades de fim de ano.

Os pesquisadores observam que os períodos curtos de exageros caloricos são arriscados, mas questionam se são mais prejudiciais do que o ganho contínuo e gradual de peso. Halpern sugeriu que, na verdade, a inflamação causada pelos excessos pode dificultar o controle do apetite e da saciedade. Em pessoas predispostas à obesidade, o diálogo do cérebro sobre o apetite pode ser significativamente afetado.

Isso se estende também às crianças, que são frequentemente expostas a uma cultura de guloseimas durante as férias. Halpern alerta que isso pode resultar em um aumento proporcional de gordura em relação ao que os adultos ganham nesse período excessivo de alimentação.

Para enfrentar esses desafios e ter um ano mais leve, Halpern aconselha que o ambiente ao nosso redor pode influenciar nosso comportamento alimentar. A presença excessiva de alimentos nas comemorações pode tornar mais difícil resistir ao consumo excessivo, especialmente para aqueles com uma predisposição ao ganho de peso. Ele reforça que o controle das porções é vital, principalmente em situações onde a qualidade dos alimentos é substituída pela quantidade.

Em contrariedade à clássica ideia de força de vontade, o endocrinologista destaca que a inflamação do hipotálamo em pessoas com obesidade interfere na regulação do apetite. Por isso, ele sugere escolhas mais conscientes nas festas, uma vez que a indulgência é mais aceitável se focada em iguarias especiais e únicas, ao invés de opções comuns e frequentemente disponíveis.

Portanto, que 2025 possa ser um ano de escolhas mais saudáveis e saborosas, promovendo o prazer nas refeições de forma equilibrada, sem que isso comprometa a saúde. Faça escolha que realmente valem a pena e anseie por um ano mais leve, tanto no corpo quanto na mente!