O Novo Império do Ódio: Como Criadores de Conteúdo Estão Lucrando com a Raiva nas Redes Sociais
2024-12-15
Autor: Julia
No cenário das redes sociais, Winta Zesu se destaca como uma das pioneiras na criação de 'iscas de ódio', um novo tipo de conteúdo que não apenas chama a atenção, mas também gera polêmicas e discussões acaloradas. Em 2023, essa influenciadora de 24 anos faturou impressionantes US$ 150 mil (aproximadamente R$ 900 mil) com suas postagens.
Winta compartilha sua vida como modelo em Nova York, mas o que realmente atrai as visualizações são os comentários raivosos que suas publicações geram. "Cada vídeo meu obteve milhões de visualizações devido aos comentários negativos", explica ela, revelando que muitos dos comentários que recebe são cruéis e desdenhosos.
Porém, o que muitos esquecem é que Zesu está atuando — não é apenas a jovem bonita que muitos adoram detestar. Esse tipo de 'rage-baiting', ou isca de ódio, se destina a incitar emoções fortes como raiva e indignação. Segundo a especialista em marketing digital, Andréa Jones, esse fenômeno foi exacerbado pelo pagamento crescente que plataformas de redes sociais oferecem pelos likes, comentários e compartilhamentos. A mentalidade de que qualquer engajamento é válido — mesmo que negativo — está criando um ciclo vicioso.
Pesquisadores, como William Brady, esclarecem que o desejo humano por atenção foi moldado historicamente por conteúdos que usavam o medo e a raiva como veículos de alerta. "Hoje, o conteúdo negativo é amplificado por algoritmos que fazem com que parecer que esse tipo de mensagem é a norma", afirma Brady, ressaltando que isso leva a um desengajamento geral com notícias construtivas.
Essa tendência encontra um ambiente fértil durante períodos eleitorais, onde o conteúdo incendiário é mais prevalente. Com as eleições de 2024 se aproximando, analistas notam um aumento nas publicações que não apenas buscam cliques, mas que efetivamente mobilizam eleitores por meio de mensagens de ódio. A pesquisa da repórter Marianna Spring, da BBC, revelou que usuários da antiga plataforma Twitter, agora conhecido como X, estavam sendo recompensados generosamente por disseminar desinformação e teorias da conspiração, levantando preocupações sobre a integridade da informação que consumimos diariamente.
Em resposta a essa onda de conteúdo tóxico, várias plataformas começaram a implementar medidas. O Instagram e o YouTube, por exemplo, têm regras que permitem desmonetizar criadores que promovem desinformação, enquanto o X ainda carece de diretrizes similares. Adam Mosseri, executivo do Meta (Facebook e Instagram), reconheceu o problema e afirmou que está trabalhando para controlar as 'iscas de engajamento' que proliferam em suas plataformas.
Contudo, enquanto o jogo do ódio e da provocação continua a render lucros substanciais para alguns, a saúde mental da população pode estar em risco. Especialistas alertam que a constante ingestão de conteúdo carregado de raiva pode levar os usuários a se desligarem emocionalmente. A professora Ariel Hazel, da Universidade de Michigan, enfatiza que o estresse emocional contínuo pode afastar as pessoas das notícias e criar uma sociedade menos informada e mais polarizada.
A batalha contra o ódio digital pode ser só o começo. Como as plataformas e seus usuários lidam com essa realidade ainda está por ser determinado — mas uma coisa é certa: neste novo império do ódio, os lucros são altos, mas os custos emocionais podem ser ainda mais elevados.