O que a vitória de Trump nas eleições dos EUA revela sobre as pesquisas eleitorais?
2024-11-09
Autor: Mariana
Na corrida presidencial mais recente nos Estados Unidos, Trump superou as expectativas e desafiou a lógica das pesquisas eleitorais. Mas o que fatorou esse sucesso inesperado e por que os institutos de pesquisa falharam em prever o resultado?
Embora houvesse incertezas em estados decisivos como Nevada, Pensilvânia, Carolina do Norte, Geórgia e Arizona, Trump conseguiu levar a maioria deles, consolidando uma vitória que pegou muitos de surpresa, inclusive os analistas políticos. Pesquisas indicavam que ele estava liderando em algumas dessas regiões, mas a margem de vitória foi maior do que o esperado, especialmente na Flórida, onde Trump não só venceu, mas fez isso com uma vantagem de 13 pontos percentuais — um resultado expressivo que contrastava com as previsões iniciais.
Um dos fatores que contribuiu para essa discrepância entre resultados e pesquisas é a dificuldade em capturar o apoio dos eleitores menos engajados: latinos, negros e jovens. Muitos desses eleitores estão ocupados com trabalhos e responsabilidades, tornando-se menos propensos a responder a pesquisas. Esse fenômeno foi destacado pelo cofundador da J.L. Partners, James Johnson, que comentou que “os eleitores de Trump tendem a ser menos visíveis em amostragens tradicionais porque muitos estão ocupados conciliando dois ou três empregos”.
Além disso, um levantamento do New York Times revelou que Trump teve um aumento de 13 pontos percentuais entre comunidades predominantemente latinas, unindo-se a um apoio crescente entre os jovens e os negros, o que foi um sinal de alerta para o Partido Democrata. Dados de uma pesquisa de boca de urna da NBC News mostraram que quase metade dos latinos votou em Trump, o que reforçou seu desempenho em estados onde Kamala Harris era considerada favorita.
Mas a questão não se limita simplesmente a números. As pesquisas são cada vez mais criticadas por não conseguirem captar o verdadeiro perfil do eleitorado. Especialistas como Raphael Nishimura, da Universidade de Michigan, sugerem que as metodologias tradicionais, predominantemente baseadas em entrevistas telefônicas ou panéis online, se tornaram desatualizadas e incapazes de refletir a complexidade do eleitorado atual.
Com a pandemia, o comportamento dos eleitores mudou significativamente. Enquanto muitos democratas estavam disponíveis para compartilhar suas opiniões em pesquisas, os republicanos estavam mais concentrados em suas rotinas diárias. Nate Cohn, colunista do New York Times, argumenta que esse fenômeno distorceu as medições e contribuiu para a má interpretação dos reais sentimentos eleitorais.
Uma nova análise do cenário político mostra que, além das falhas das pesquisas, a nova dinâmica de voto antecipado e por correio, impulsionada pela pandemia, trouxe à tona eleitores anteriormente desconsiderados. "Parece que pessoas que tradicionalmente não comparecem às urnas decidiram votar dessa vez, e isso impactou fortemente os resultados", afirma Nishimura.
À medida que novos padrões eleitorais emergem, fica claro que o sistema de pesquisa deve evoluir para acompanhar as realidades em mudança. O que se vê agora é a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e representativa. As perguntas são: até que ponto isso impactará as futuras eleições? E como os partidos poderão adequar suas estratégias para se conectar melhor com todos os segmentos da população?
A vitória de Trump não é apenas um reflexo do que ocorreu nas urnas, mas sim um chamado à ação para repensar a maneira como as pesquisas são conduzidas e interpretadas no complexo cenário político dos Estados Unidos.