O que aprendi sobre luxo na escola de motoristas da Rolls-Royce
2024-11-24
Autor: Gabriel
Às 9 da manhã de uma sexta-feira, estou em uma suíte luxuosa no 31º andar do Wynn Encore Las Vegas, observando um inglês chamado Andi McCann se movendo graciosamente pelo carpet.
"É como dançar; você move a cabeça e o corpo segue", ele me explica, enquanto vira o corpo em direção ao sol de novembro que entra pelas janelas do chão ao teto. "Faça um movimento suave; isso é teatro!"
McCann, instrutor de direção da Rolls-Royce Motor Cars desde 2005, ensina motoristas de magnatas e empreendedores em lugares como Texas, Taipei e Arábia Saudita. Neste curso exclusivo, os motoristas aprendem não apenas a técnica correta de abrir portas, mas também como manobrar bagagens, segurar guarda-chuvas e evitar riscos de segurança ao máximo. Todo esse aprendizado visa garantir que a experiência do passageiro seja impecável.
Ele me explica que abrir uma porta de um Rolls-Royce deve ser feito sem esforço e em um único movimento. "É feito com pernas e braços", detalha McCann, que tem um sotaque elegante e uma presença marcante.
Num mundo onde marcas como Tesla promovem o futuro da direção autônoma, McCann se destaca em uma filosofia oposta: muitos clientes da Rolls-Royce preferem ser conduzidos. Aproximadamente 20% dos 6.000 veículos que a empresa vende anualmente são destinados a proprietários que contratam motoristas. Essa proporção aumenta consideravelmente entre os donos do luxuoso sedã Phantom, que custa cerca de 575 mil dólares (aproximadamente 3,2 milhões de reais). O objetivo de McCann é maximizar o conforto e a satisfação de cada viagem.
O treinamento de motoristas está em ascensão, especialmente nas regiões onde a riqueza está aumentando, como na Ásia e no Oriente Médio. Em 2023, a Rolls-Royce registrou um crescimento notável na demanda, especialmente na China, e empresas de serviços de motorista de luxo, como a Blacklane, estão levando o conceito se não apenas de transporte, mas de experiência.
McCann enfatiza a importância do cuidado personalizado proporcionado por motoristas em comparação ao serviço automatizado: a interação e atenção humanas são insubstituíveis. Um motorista é considerado um concierge em movimento, capaz de atender às necessidades específicas de cada cliente. Um exemplo disso é a atenção aos detalhes mais sutis, como verificar a temperatura da bebida. O treinamento que ele oferece, embora pareça tradicional, é profundamente relevante nos dias de hoje, em que luxo é sinônimo de experiência memorável e sem estresse.
Durante a aula, McCann compartilha um pedaço da história da Rolls-Royce e da profissão de motorista. A palavra "chauffeur" se origina do francês e remete aos condutores de locomotivas a vapor. Na virada do século 20, com a popularização dos automóveis, empregados domésticos foram treinados para manobrar essas novas máquinas. Hoje, a Rolls-Royce mantém essa tradição, adaptando o conhecimento para criar motoristas de elite que entendem o que significa proporcionar luxo genuíno.
Dentre as lições que absorvemos, ele nos alerta sobre o cuidado ao tratar das bagagens e como se direcionar aos passageiros. Uma das regras mais interessantes? Nunca pergunte sobre o voo dos passageiros. "É uma pergunta que geralmente leva a respostas insatisfatórias. Foque nas preferências pessoais deles e antecipe suas necessidades", aconselha.
Ao longo do dia, praticamos não apenas a inspeção e manobra do veículo, mas também a postura correta ao dirigir. McCann é rigoroso em sua abordagem: "A direção reflete o seu estado emocional. Se você estiver tenso, isso se transmite ao carro!"
Depois de várias horas aprendendo e praticando, chego à conclusão de que o verdadeiro luxo é a ausência de desconforto. Um bom motorista deve conseguir fazer com que seus clientes se sintam à vontade, cuidando de cada detalhe. Essa experiência transforma o carro em um santuário de tranquilidade, fugindo da correria do cotidiano.
Ao final do aprendizado, recebo uma luva branca com um broche dourado da Rolls-Royce, um reconhecimento de que completei o curso e aprendi parte da arte de ser motorista. E de volta à minha rotina em Los Angeles, tentando aplicar esses ensinamentos, percebo que a busca pela perfeição e pela experiência de luxo nunca termina - e estou ansioso para aperfeiçoar meus novos conhecimentos!