O que está causando os ataques de leões-marinhos a banhistas na Califórnia?
2025-04-07
Autor: Pedro
Nos últimos meses, a Califórnia, nos Estados Unidos, tem sido palco de uma série de ataques inesperados de leões-marinhos a banhistas e surfistas. Esses incidentes, que contrastam com a natureza amigável e brincalhona desses mamíferos, sinalizam uma crise ambiental, atribuída à intoxicação por ácido domoico, uma toxina gerada por algas nocivas.
Uma das vítimas, Phoebe Beltran, uma adolescente de 15 anos de Long Beach, foi mordida por um leão-marinho enquanto treinava para ser salva-vidas, no final de março. As mordidas e arranhões que ela recebeu a deixaram marcada, embora não tenham exigido pontos, e ela comentou que inicialmente pensou estar enfrentando um tubarão.
Outro caso ocorreu com o surfista RJ LaMendola, que compartilhou nas redes sociais sua experiência aterrorizante, descrevendo o olhar do leão-marinho como “selvagem, quase demoníaco”.
De acordo com especialistas, a principal razão por trás desses ataques é ambiental. O aumento das algas tóxicas, intensificado por um fenômeno natural chamado ressurgência, está causando envenenamento em leões-marinhos. O ácido domoico, uma neurotoxina produzida por algas microscópicas, se infiltra na cadeia alimentar marinha, afetando o sistema nervoso destes animais e provocando convulsões, desorientação e, em determinadas situações, reações agressivas.
"Quando intoxicados, eles perdem a sanidade", explica John Warner, do Marine Mammal Care Center. "Eles ficam totalmente desorientados e assustados, lutando para não se afogar".
Esses mamíferos, sob efeito da toxina, podem adotar comportamentos de defesa extrema, levando a interações perigosas com pessoas que se aproximam sem serem notadas.
A crise climática é um fator exacerbante dessa situação. O Marine Mammal Care Center já recebeu mais de 2.000 chamadas sobre animais doentes na Califórnia desde março, um número alarmante comparado à média de 4.000 ligações por ano. A West Coast Marine Mammal Stranding Network relatou um crescimento significativo de mais de 100 chamadas diárias relacionadas a animais enfermos.
Com recursos escassos, as equipes de resgate são forçadas a priorizar os mamíferos com melhores chances de sobrevivência. Para leões-marinhos, as chances oscilam entre 50% e 65% com um tratamento rápido, enquanto a situação para golfinhos é frequentemente letal devido à toxina.
A ocorrência de florações de algas tóxicas tem se tornado cada vez mais comum, fenômeno exacerbado pelas mudanças climáticas. Temperaturas superficiais do oceano mais elevadas e níveis de acidez aumentam a proliferação dessas algas, que são alimentadas também por fertilizantes agrícolas que contaminam rios e oceanos.
"Antes, essas florações aconteciam a cada poucos anos. Agora, são anuais", afirmou Warner. A ressurgência, que envolve a movimentação de nutrientes do fundo do oceano para a superfície, é normal, mas as condições climáticas atuais intensificam seus efeitos.
Essas mudanças no ecossistema marinho não apenas prejudicam os leões-marinhos, mas também ameaçam outras espécies, gerando um ciclo preocupante na saúde dos oceanos e a segurança das atividades recreativas nas praias. A situação é um lembrete urgente da necessidade de cuidar do meio ambiente e da fauna marinha, já que isso impacta diretamente a vida na costa.