
O Vicioso Círculo do Espelho Digital: Por Que Não Conseguimos Parar de Nos Fotografar?
2025-04-05
Autor: Gabriel
Nos últimos anos, uma pesquisa sobre redes sociais revelou que muitos jovens acham mais interessante ver a si mesmos do que aos outros. Esse fenômeno, especialmente evidente entre adolescentes brasileiros, traz à tona uma questão delicada: até que ponto essa busca por validação nas redes sociais pode impactar a formação da identidade?
Lembre-se das clássicas histórias sobre mães que, ao elogiar o filho, rapidamente mudam o foco para as ”lindas fotos” que tiraram dele. Hoje, a situação é bem mais complexa, pois a obsessão por selfies, postagens e uma imagem editada acabou por criar um círculo vicioso: quanto mais você se vê, mais deseja se mostrar. Essa compulsão é alimentada pelos celulares, que simplificam o ato de capturar e compartilhar informações visuais.
Esse comportamento não é apenas uma questão de vanidade superficial. O que temos aqui é um fenômeno que poderíamos chamar de "espectralização". Em vez de apenas se posicionar para uma foto, os jovens estão criando versões de si mesmos nas redes sociais, quase como atores em um palco digital. Essa multiplicidade de identidades online reflete uma luta constante entre ser autêntico e projetar uma persona que agrade ao público.
Os celulares, com sua capacidade de capturar imagens a qualquer momento e sem custos, têm um papel crucial nisso. Mas não se trata apenas das ferramentas; é a paixão pela autoimagem e o desejo de ser constantemente validado que impulsionam a criação desses "espectros". Viver em um mundo virtual, onde a aparência pode ser manipulada e a realidade distorcida, começa a criar um novo tipo de existência, que filósofos antigos poderiam reconhecer como "bios" - uma vida que se desdobra em múltiplas realidades.
As consequências disso na formação da personalidade são profundas. Embora os cientistas tentem captar essa mudança por meio de observações físicas, muitos falham em compreender o vasto universo emocional e digital que acompanha essa nova forma de ser. O impacto na psique dos adolescentes é inegável, como revela a série "Adolescência", que explora como essa realidade dual pode provocar ansiedades e inseguranças na identidade jovem.
Em documentários e filmes contemporâneos, como "Emília Perez", vemos personagens que refletem sobre a dualidade de suas existências: quem são realmente e o que estão projetando para o mundo. Essa luta interna, muitas vezes manifestada nas redes sociais, pode provocar comportamentos tóxicos, como racismo e misoginia, tornando-se um vetor de uma epidemia moral que pode afetar a estrutura social. Fica claro que, enquanto tentamos capturar a imagem perfeita para o Instagram, podemos estar perdendo de vista a essência do que significa estar verdadeiramente presente na vida.