
Os Mistérios por Trás da Revolução Comercial de Trump
2025-04-08
Autor: Ana
As mudanças drásticas que Donald Trump propôs no sistema de comércio global revelam duas teorias intrigantes sobre seus reais objetivos.
A primeira teoria sugere que sua intenção é revitalizar a indústria manufatureira nos Estados Unidos, buscando restaurar a capacidade do país de produzir e exportar localmente. O sistema de livre comércio que floresceu no final do século 20 beneficiou a economia americana, mas isso custou caro à sua antiga posição como potência fabril e erodiu o tecido social da classe trabalhadora.
Nos últimos anos, nossa base industrial migrou não apenas para o exterior, mas essencialmente para a China, nosso principal rival econômico. Portanto, reconquistar a indústria americana pode ter benefícios significativos, mesmo que isso implique renunciar a algumas eficácias do comércio global. Empregos nas fábricas desempenham um papel crucial na economia, especialmente em uma época marcada pelo aumento das drogas, declínio e desespero entre a classe trabalhadora. Além disso, ter uma base manufatureira forte é vital em um cenário de competição frente a frente com outras grandes potências nas próximas décadas.
Entretanto, essa política tarifária de Trump se mostrou abrangente, pois foi aplicada não apenas contra a China, mas também contra aliados e economias parceiras. Isso levanta dúvidas sobre a racionalidade da abordagem, uma vez que o potencial dano ao crescimento econômico e à comunidade internacional pode ser excessivo.
É aí que entra a segunda teoria, que indica que a política tarifária de Trump está relacionada aos déficits fiscais, e não apenas aos déficits comerciais. O mesmo sistema que transformou os EUA em um importador líquido também permitiu um endividamento sem precedentes. Porém, a capacidade de sustentar essa dívida vem sendo questionada, especialmente com o aumento das taxas de juros.
As tarifas, portanto, servem a múltiplos propósitos. Elas geram receita sem a necessidade de acordos substanciais sobre Medicare e impostos, um tema que os partidos estão polarizados demais para discutir. Além disso, se essas tarifas desacelerarem o crescimento, podem empurrar investidores para a segurança dos títulos do Tesouro, reduzindo as taxas de juros sobre a dívida do governo, uma situação que já começa a se manifestar.
A guerra comercial pode abrir portas para uma revisão do sistema econômico global, onde países concordam em renegociar os termos da dívida dos EUA em troca de melhores condições comerciais. Um evento frequentemente mencionado como referente a isso foi o 'Choque Nixon', a decisão do ex-presidente Richard Nixon de acabar com o sistema de Bretton Woods em 1971, criando assim uma nova ordem econômica.
Nesse cenário, o artigo do economista Stephen Miran, que será publicado no final de 2024 como um "Guia do Usuário para a Reestruturação do Sistema de Comércio Global", nos dá uma visão sobre a lógica que cerca o trumpismo. Ele, agora presidente do Conselho de Assessores Econômicos de Trump, nos mostra que há uma linha de pensamento sobre como a política tarifária pode ser percebida e aplicada nos dias atuais.
Pessoalmente, concordo que a ideia de trazer de volta parte da manufatura e reduzir a dependência da China é válida do ponto de vista da segurança nacional, mesmo que isso tenha um custo associado ao PIB e ao mercado de ações. Utilizar a receita tarifária focada na China para lidar com déficits pode ser uma estratégia viável.
Entretanto, sou cético sobre a possibilidade de que esse retorno à manufatura solucione os problemas sociais enfrentados pela classe trabalhadora masculina. A automação transformou as indústrias de tal maneira que, provavelmente, um esforço de restauração social seja necessário para reintegrar os milhões de homens fora do mercado de trabalho.
Além disso, é alarmante tratar a disrupção global como uma maneira de evitar uma potencial crise de déficit. A esperança de 'criar uma crise agora antes que a nossa posição se enfraqueça' possui um histórico desastroso, especialmente em guerras reais. O 'Choque Nixon' foi uma realidade imposta ao seu governo, e não parece que o mesmo grau esteja sendo aplicado a Trump, que possivelmente enfrentará sérias dificuldades se a economia reagir negativamente.
Em suma, Miran parece concordar com a ideia de que qualquer sistema tarifário abrangente deve ser implementado gradualmente, com etapas apropriadas para mitigar possíveis consequências adversas. Porém, a escolha feita por este governo, como em administrações republicanas anteriores, é de choque e temor. Agora, resta saber se essa aposta terá um desfecho mais positivo.