'Papai, o que vai acontecer com a gente quando Trump assumir o governo?'
2025-01-05
Autor: Mariana
Quando eu expliquei para meu filho que não tínhamos nada a temer, já que vivíamos legalmente nos EUA e não havíamos cometido crimes, seu coração parecia ter se acalmado, ou pelo menos ele tentou parecer convencido.
Em um ônibus lotado de americanos de diferentes origens e estrangeiros com o mesmo sonho americano, um breve silêncio tomou conta de nossa conversa.
Mas logo foi interrompido por uma nova pergunta. Ele queria saber qual seria o destino de dois funcionários da escola, um equatoriano e um salvadorenho, que trabalhavam na cozinha e na limpeza. Jesus e Ivan, como ele disse, eram os únicos que sabiam algo sobre futebol, e era com eles que ele comentava os jogos do fim de semana ou da Champions League.
Para essa pergunta, eu não soube o que responder.
Repentinamente, como se tivesse mudado a perspectiva, percebi que aqueles passageiros do ônibus pareciam ter um destino diferente, outra realidade.
Trump venceu as eleições prometendo a maior operação de deportação em massa da história dos EUA e, sob a justificativa da “proteger a América”, iniciou uma ofensiva que mirou os locais de trabalho de imigrantes. Ao longo do tempo, ele conseguiu dividir diferentes gerações de imigrantes, convencendo aqueles que já estavam no país há anos a fechar as portas para os novos, numa manobra estratégica que prometia preservar seus próprios sonhos americanos em detrimento dos outros.
Quando o poder se torna algo distante e inacessível, comunidades começam a ver seus vizinhos como inimigos, num ciclo vicioso de medo e desconfiança.
Recentemente, Trump utilizou um ataque terrorista em Nova Orleans como justificativa para intensificar sua retórica anti-imigração. Antes mesmo de saber a identidade do autor do crime horrendo, ele foi às redes sociais para sugerir que a culpa recaía sobre estrangeiros. Horas depois, a verdade emergiu: o autor do ataque era um texano, veterano do exército americano, embora sobrinho-neto de imigrantes.
Conversando com outros estrangeiros nos EUA, percebi que o medo em relação ao governo Trump não se limita às ações que ele tomará, mas se refere também ao que ele permitirá, sem saber, ao inconsciente coletivo de uma nação repleta de ódio, dividida e cada vez mais armada.
Este clima de incerteza é refletido não apenas nas ruas, mas também nas famílias, que carregam o peso da expectativa e da ansiedade sobre o que o futuro reserva. As comunidades latinas, especialmente, se sentem ameaçadas, com muitos pensando em voltar para seus países de origem, mesmo que isso signifique abrir mão do sonho americano que tanto custou para conquistar.
A retórica anti-imigração de Trump não é um fenômeno isolado; estudiosos apontam que ela se alinha a um histórico de políticas que visam marginalizar comunidades imigrantes nos EUA. O impacto dessas políticas vai além da deportação, afetando profundamente a saúde mental e econômicas de milhares. Grupos de apoio e organizações comunitárias têm se mobilizado para oferecer assistência legal e psicológica a imigrantes vulneráveis, destacando a resiliência e a luta contínua por direitos e dignidade.