
Paradoxo Nórdico: Países Europeus 'Igualitários' São Perigosos para Mulheres?
2025-04-06
Autor: Maria
Finlândia e Noruega ocupam o segundo e terceiro lugares, respectivamente, no índice de igualdade de gênero, com uma impressionante pontuação de 0,875. A Suécia não fica muito atrás, em quinto lugar, com 0,816, enquanto a Dinamarca é a última entre os países nórdicos, situando-se na 15ª posição global, com um índice de 0,789. Para fins de comparação, o Brasil se encontra na 70ª posição, com um índice de 0,716 em termos de igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.
Entretanto, apesar dos altos índices de igualdade, a Finlândia revela algo alarmante: é o segundo país da União Europeia com o maior índice de violência sexual, psicológica ou física perpetrada por parceiros. Cerca de 52,6% das mulheres finlandesas já sofreram algum tipo de agressão ao longo de suas vidas, de acordo com dados de 2021 do Instituto Europeu para Igualdade de Gênero. A Suécia, em quinto lugar, apresenta 48,2% de mulheres agredidas, enquanto a Dinamarca segue com 45%. E a Islândia, que é frequentemente vista como um modelo de igualdade, também apresenta números preocupantes, com aproximadamente 40% das mulheres relatando ter enfrentado violência de gênero ou sexual, conforme estudo da Universidade da Islândia, realizado em 2018.
Em contraste, no Brasil, cerca de 30% das mulheres já sofreram com a violência doméstica, segundo a 10ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo DataSenado em 2023. A média na União Europeia é similar, ao redor de 31,8%, enquanto em Portugal, o índice é de 22,5%.
Mas por que esse paradoxo existe?
A expressão "paradoxo nórdico" foi criada em 2016 pelos pesquisadores Enrique Gracia e Juan Merlo para descrever essa contradição aparente entre alta igualdade de gênero e elevados índices de violência contra mulheres. Gracia tem conduzido pesquisas sobre esse fenômeno desde então, e uma das teorias levantadas sugere que a conscientização sobre a violência pode estar contribuindo para o aumento das denúncias. O pesquisador Lucas Gottzen, por exemplo, argumenta que a maior conscientização social pode resultar em números mais altos de casos relatados, uma vez que as mulheres se sentem mais empoderadas para falar sobre suas experiências de violência.
Por outro lado, a falta de representatividade das mulheres nas esferas de poder e nas tomadas de decisão pode ser um fator persistente que alimenta essa violência. Apesar de avançarem em igualdade no mercado de trabalho, a estrutura social ainda é dominada por homens, o que pode propiciar um ambiente em que a violência contra mulheres se torna mais comum e, por vezes, até normalizada.
Outro ponto a ser considerado é o consumo de álcool, que é elevado em muitos países nórdicos. Um estudo multinacional realizado em 2021 sugere que o álcool possa estar relacionado aos altos índices de violência, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar essa hipótese. O Centro para Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, está atualmente investigando a influência do consumo de álcool nesse paradoxo.
Além disso, a chamada "ressaca da igualdade" aparece como um conceito relevante: à medida que as mulheres conquistam mais direitos e oportunidades, alguns homens podem sentir que estão perdendo sua posição, o que leva a um ressentimento que pode se manifestar em comportamentos violentos contra parceiras. Portanto, esse paradoxo destaca a complexa realidade em que a igualdade de gênero e a violência estão interligadas de formas que desafiam a lógica simples.