O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, fez um anúncio bombástico nesta terça-feira (1º de abril de 2025): o país decidiu suspender as negociações com o Brasil referentes ao Anexo C da Itaipu Binacional, um tratado crucial para a definição das tarifas de energia elétrica. Essa suspensão ocorrerá até que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronuncie sobre um suposto ataque cibernético supostamente orquestrado pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) contra autoridades paraguaias.

Lezcano convocou imediatamente o embaixador do Brasil em Assunção, José Antonio Marcondes, para prestar esclarecimentos sobre a suposta ação de espionagem. O ministro também interagiu com o embaixador do Paraguai no Brasil, Juan Ángel Delgadillo, demonstrando a gravidade com que o governo paraguaio está tratando a situação.

Segundo informações veiculadas pelo portal UOL, a Abin estaria envolvida na espionagem de computadores de agentes do governo paraguaio, visando coletar dados estratégicos que poderiam impactar as negociações de tarifas referentes à hidrelétrica de Itaipu. A operação teria sido planejada durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e executada sob a atual administração de Lula, levantando questões sérias sobre a condução das relações bilaterais.

A Itaipu é uma usina hidrelétrica compartilhada entre Brasil e Paraguai, e as tarifas são discutidas anualmente. O Anexo C, que rege estas tarifas, foi firmado em 1973 e teve validade de 50 anos, expirando agora em 2023. O Itamaraty havia anunciado que um novo acordo seria estabelecido até maio de 2025.

Lezcano mencionou que uma investigação está sendo aberta para apurar os acontecimentos de 2022 a 2023 e ressaltou que não houve comunicação a respeito de tais incidentes por parte do governo anterior, o que agrava ainda mais a situação. “Esta é uma violação do direito internacional, uma intervenção nos assuntos internos de outro país. Vamos avaliar a situação conforme as informações que solicitamos ao Brasil”, declarou.

O ministro da Indústria e Comércio do Paraguai, Javier Giménez, destacou a importância de reconstruir a confiança entre os dois países, após este incidente que compromete as relações diplomáticas. Em uma entrevista a repórteres paraguaios, Lezcano revelou que as atitudes do governo paraguio foram respondidas pela nota oficial do Brasil, divulgada na segunda-feira (31 de março de 2025).

Na referida nota, o governo Lula categoricamente desmentiu qualquer envolvimento com a alegada ação de espionagem, afirmando que a operação teria sido autorizada pelo governo anterior e posteriormente suspensa assim que a atual gestão tomou conhecimento dela. “Essa operação foi iniciada em junho de 2022 e não teve autorização da atual administração”, ressaltou o comunicador.

Nos últimos meses, o Brasil e o Paraguai haviam iniciado discussões para estabelecer as novas tarifas da Itaipu para os próximos anos, mas agora, com a desconfiança e o conflito surgindo em meio a suspeitas de espionagem, o futuro dessas negociações se torna incerto. O aumento da tarifa proposto pelo presidente paraguaio foi motivo de acalorados debates, com exigências que variavam de US$ 16,71/kW para valores superiores a US$ 22,70.

Este caso de espionagem não apenas impacta questões energéticas, mas também desafia os laços históricos entre Brasil e Paraguai, que sempre foram marcados pela cooperação e confiança mútua. O desenrolar dessa crise poderá ter repercussões significativas nas relações diplomáticas dessas nações vizinhas.