Em um marco histórico, os parisienses deram um passo decisivo rumo a uma capital mais limpa e segura. Quase dois terços dos cidadãos que participaram do referendo popular no último domingo (23) apoiaram a proposta da administração municipal de fechar cerca de 25 ruas em cada um dos 20 arrondissements da cidade, ampliando o uso exclusivo para pedestres.

Atualmente, aproximadamente 220 ruas já estão liberadas para pedestres, e a medida promete transformar Paris, fazendo com que, em breve, uma em cada dez ruas seja destinada apenas a caminhantes. Os endereços específicos que serão fechados ao tráfego de veículos ainda estão sendo debatidos em consultas com a população, garantindo que a voz dos cidadãos seja ouvida.

Entretanto, essa mudança irá provocar a eliminação de até 10 mil vagas de estacionamento nos próximos anos, somando-se a outras 10 mil já retiradas desde 2020. Essa decisão reflete uma tendência crescente de redução do uso de carros na cidade, que, segundo dados municipais, teve uma queda de mais da metade no volume de tráfego desde 2001, quando os socialistas, sob a liderança da prefeita Anne Hidalgo, ascenderam ao poder.

Hidalgo, reeleita em 2020 com a proposta de transformar radicalmente a cidade, visa criar um ambiente urbano mais sustentável e adaptado às mudanças climáticas, apostando em projetos que promovam a convivência harmoniosa entre os moradores. Um dos seus principais focos é o conceito de "cidade de 15 minutos", onde serviços essenciais estão acessíveis em um curto período de tempo a pé.

As margens do rio Sena já foram remodeladas como zonas de pedestres, um projeto que tem atraído tanto ciclistas quanto entusiastas de atividades ao ar livre, apesar de resistências iniciais. Além disso, uma área de tráfego limitado foi estabelecida nas imediações do Museu do Louvre, restringindo o acesso de veículos apenas a moradores, serviços e transportes públicos.

Para tornar Paris ainda mais verde, medidas como a redução do limite de velocidade a 30 km/h em toda a cidade e a criação de 84 km de ciclovias desde 2020 têm sido implementadas com grande sucesso. Hidalgo tem como meta a promoção total do uso de bicicletas até 2026.

De acordo com um estudo do Institut Paris Région publicado em abril de 2024, apenas 4,3% dos deslocamentos na capital são feitos de carro, enquanto a bicicleta e as caminhadas lideram nas opções de transporte, com 11,2% e 53,5%, respectivamente. No entanto, a prefeitura ainda enfrenta desafios na criação de uma infraestrutura verde adequada; enquanto apenas 26% do território de Paris possui espaços verdes, a média de outras capitais europeias é de 41%.

Infelizmente, a participação da população no referendo foi baixa, com apenas 4% dos eleitores participando da votação. Isso segue uma tendência observada em anteriores referendos sobre a mobilidade urbana na capital. Recentemente, o preço do estacionamento para veículos pesado na área central subiu para 18 euros por hora, e, em caso de estacionamento por seis horas, a conta pode chegar a 225 euros.

A prioridade da administração é claramente desincentivar o uso de SUVs, considerados mais poluentes e perigosos para pedestres. Com essas mudanças audaciosas, Paris está se preparando para se tornar um modelo de cidade sustentável, que prioriza o bem-estar de seus cidadãos e a qualidade do meio ambiente. O que mais essa iniciativa pode inspirar em outras grandes cidades do mundo?