Nação

Pessoas negras formam a maior parte da população, mas a taxa diminui acima dos 60 anos

2025-03-22

Autor: Ana

Pessoas negras na população brasileira

Uma pesquisa do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra) revela que pessoas negras representam a maior parte da população brasileira. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, entre 2012 e 2023, as mulheres negras constituem 27,8% do total da população, superando todos os outros grupos.

Os homens negros correspondem a 27,4%, seguidos por mulheres brancas (22,8%) e homens brancos (21,1%). No entanto, quando observamos a faixa etária acima dos 60 anos, a situação muda significativamente. As mulheres brancas são maioria nessa faixa etária com 29,4%, seguidas por homens brancos (22,4%), mulheres negras (25,7%) e homens negros (21,2%). Essa discrepância indica que a expectativa de vida de pessoas brancas é superior à de pessoas negras, sinalizando que estas últimas estão morrendo mais cedo.

Desigualdade e pobreza

Além disso, a pesquisa revela dados alarmantes sobre a pobreza. Entre 2012 e 2023, a porcentagem de pessoas negras vivendo em situação de extrema pobreza (com renda de até R$ 209 por mês) subiu de 70,5% para 73,5%. Isso significa que, em média, três em cada quatro negros estão nessa condição. Para comparação, mais de 60% dos negros vivem com uma renda de até um salário mínimo, enquanto menos de 40% dos brancos estão nessa situação.

A pesquisa também evidencia que a renda média nos lares com pessoas negras é menos da metade da renda dos lares que não têm negros. Marcelo Tagtenberg, conselheiro do Cedra, aponta que, apesar de alguns avanços, os indicadores de desigualdade entre brancos e negros ainda demorarão 340 anos para serem superados, se mantidas as taxas atuais.

Necessidade de políticas públicas

Tagtenberg enfatiza a necessidade de políticas públicas que apoiem a população negra, especialmente em termos de acesso igualitário à educação e ao emprego. Ele ressalta que, mesmo com níveis de escolaridade semelhantes, as oportunidades ainda não são iguais para negros e brancos. "Cotas no mercado de trabalho devem ser debatidas em processos seletivos e progressão na carreira. Aumentar a equidade racial em cargos públicos e privados é crucial para reduzir a disparidade salarial", afirma.

Demografia e infraestrutura

A pesquisa também revela que, em média, 4 de cada 10 lares no Brasil são ocupados exclusivamente por moradores negros, enquanto 3,5 são apenas por não negros e 2,5 possuem uma mistura de ambos. Destaca-se que a maioria dos lares com responsáveis negros é chefiada por homens negros (30,7%), seguida por homens brancos (25,5%), mulheres negras (24%) e mulheres brancas (18,7%). O aumento da liderança feminina negra é notável, com um acréscimo de 10,8 pontos percentuais de 2012 a 2023.

Em termos de infraestrutura, apenas 21,1% das casas com responsáveis negros possuem máquina de lavar roupas, enquanto o percentual entre brancos chega a 45,1%. Isso implica maior carga de trabalho doméstico, muitas vezes atribuída às mulheres, afetando tanto as finanças quanto o tempo para atividades externas.

Condições de moradia

Entre 2016 e 2022, 13,2% das residências com responsáveis negros não tinham revestimento permanente, em comparação com 9,7% entre os lares de responsáveis brancos. Além disso, 88,6% das casas de negros têm coleta de lixo, enquanto esse número sobe para 94,5% entre as casas brancas.

Chamada à ação

Esses dados são um chamado à ação para que sejam implementadas políticas públicas que realmente melhorem o acesso a serviços essenciais como água potável, esgoto e iluminação, além de reformas habitacionais e arborização nas comunidades negras. Segundo o censo de 2022, 73% da população de favelas no Brasil é composta por negros, o que é consideravelmente maior do que a proporção de negros na população geral (55,5%). Isso evidencia a urgência de ações que promovam a urbanização e melhorias das condições de vida nessas áreas.