
Planos de Saúde Mantêm R$ 5,8 Bilhões Retidos de Hospitais Privados em 2024: O Que Isso Significa para a Saúde do Brasil?
2025-03-28
Autor: Pedro
Em um ano de lucros recordes, os planos de saúde retiveram R$ 5,8 bilhões em repasses de hospitais privados, impactando diretamente a qualidade dos serviços de saúde no Brasil. Enquanto isso, as operadoras de saúde registraram um lucro impressionante de R$ 10,2 bilhões, o maior desde 2020, quando a pandemia de Covid-19 começou a afetar o sistema de saúde.
Um estudo inédito da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) envolvendo 85 instituições revelou que esses valores retidos correspondem a 15,89% do total que as instituições deveriam ter recebido. Esse é um aumento alarmante de quatro pontos percentuais em comparação ao ano anterior.
As glosas, que são as suspensões de pagamento, ocorrem quando as operadoras questionam despesas hospitalares. Embora a maior parte dos valores retidos seja finalmente liberada, o processo provoca impactos significativos na operação dos hospitais. A Anahp denuncia que essa prática recorrente das operadoras tem sufocado os investimentos necessários para a expansão de leitos, aquisição de equipamentos, e mesmo a abertura de novas UTIs, comprometendo a capacidade de atendimento em um cenário já crítico.
De acordo com a pesquisa, 41,7% dos hospitais mencionaram ter feito investimentos inferiores aos planejados. O diretor-executivo da Anahp, Antônio Britto, afirmou: "Estamos enfrentando uma situação difícil, especialmente em meio a taxas de juros elevadas que impedem empréstimos bancários."
Historicamente, as glosas representavam entre 3% e 5% das contas hospitalares, mas esses números dispararam, saltando para 16% em 2024. Britto explica que, mesmo quando um procedimento já foi previamente autorizado, as operadoras insistem em questionar sua necessidade, complicando ainda mais o cenário.
Além disso, o tempo médio para pagamento das contas hospitalares aumentou drasticamente, passando de 60-70 dias para 120 dias em 2024. Essa demora impede que os hospitais paguem seus fornecedores, principalmente aqueles que fornecem equipamentos médicos, comprometendo ainda mais a qualidade dos serviços prestados aos pacientes.
Dados da Abraidi (Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde) indicam que os fornecedores de equipamentos deixaram de receber R$ 3,8 bilhões devido a retenções de faturamento e glosas injustificadas. Desse montante, R$ 2,3 bilhões referem-se a produtos que já haviam sido utilizados em procedimentos autorizados.
O presidente da Abraidi, Sérgio Rocha, expressou preocupação em relação ao comportamento das operadoras, que estão exigindo descontos em contrapartida aos pagamentos, detalhando que isso agrava os problemas financeiros dos fornecedores. "Essas práticas prejudicam a relação comercial e a saúde financeira das empresas, destacando um desequilíbrio sistêmico nas relações do setor de saúde."
Enquanto isso, a Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) defende que as glosas são um aspecto necessário para garantir que os pagamentos sejam justificados. Segundo a entidade, dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) indicam que o tempo médio de pagamento tem caído. No entanto, especialistas afirmam que as melhorias indicadas não se refletem na realidade enfrentada pelos hospitais e fornecedores.
A Fenasaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) ressalta que entre 2018 e 2023, os pagamentos das operadoras aos hospitais privados cresceram 58%, totalizando R$ 107,8 bilhões. No entanto, para que essa relação se torne saudável e sustentável, é crucial que tanto operadoras quanto fornecedores encontrem uma forma de equilibrar suas demandas e responsabilidades.
Diante de todo esse cenário, é urgente que se discuta uma reforma na relação entre planos de saúde e prestadores de serviços, garantindo um serviço de saúde mais eficiente e humano para a população brasileira. Os desafios são grandes, mas com diálogo e revisão de práticas, o setor pode traçar um novo caminho.