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Pobreza na Argentina cai de 41,7% para 38,1% no primeiro ano de governo de Javier Milei

2025-03-31

Autor: Fernanda

Após um ano marcado por uma drástica redução nos índices de inflação mensal, a taxa de pobreza na Argentina registrou 38,1% ao final do ano passado, o primeiro sob a administração do ultraliberal Javier Milei, de acordo com dados oficiais divulgados nesta segunda-feira (31).

Essa redução representa uma queda significativa de 14 pontos percentuais em comparação com os alarmantes 52,9% registrados no semestre anterior, quando a pobreza atingiu seu ápice nas últimas duas décadas, em grande parte devido ao cancelamento de subsídios governamentais.

A queda na taxa de pobreza já era esperada por especialistas, que projetaram um crescimento da renda acima da inflação, que foi controlada. Em fevereiro passado, a inflação caiu para 2,4%, e os salários começaram, embora lentamente, a aumentar acima do nível inflacionário.

Apesar das boas notícias, o governo não hesitou em celebrar a redução da pobreza, especialmente porque o índice está abaixo do patamar observado no final da gestão de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, que era de 41,7%. O governo Milei utilizou isso para criticar as políticas de seus antecessores, afirmando que suas ações resultaram em grandes dificuldades para a população.

"Esses índices evidenciam o fracasso das políticas do passado, que levaram milhões de argentinos à precariedade enquanto alegavam ajudar os pobres", disse uma nota oficial do governo. "Acreditamos que a liberdade econômica e a responsabilidade fiscal devem ser o caminho para a redução da pobreza a longo prazo, devolvendo a dignidade ao povo argentino."

O Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec), responsável por esses cálculos, usa o valor da cesta básica total, que inclui alimentos e serviços como saúde e transporte, para estabelecer a linha da pobreza. Em dezembro, essa linha estava fixada em 356.300 pesos (cerca de R$ 1.906).

O Indec também mensura a indigência, definindo uma linha inferior de pobreza, que é estabelecida pelo valor apenas dos alimentos, com a cesta básica de alimentos fixada em 156.200 pesos (aproximadamente R$ 835). Este índice também viu uma melhora, caindo para 8,2% no final do ano, comparado a 18,1% em junho.

Outro fator que contribuiu para essa queda foi o crescimento da renda familiar, que superou o aumento da cesta básica na segunda metade do ano passado. Contudo, despesas como água e luz começaram a consumir uma porção significativa da renda das famílias, levando o governo a cortar subsídios nesses setores.

Essa expressiva diminuição na pobreza acontece em um momento crucial para Javier Milei, que está prestes a firmar um acordo de US$ 20 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional), aguardando a aprovação final do organismo.

Entretanto, a realidade nas principais cidades argentinas ainda é desafiadora. O consumo local continua em queda, com uma redução de 9,8% em fevereiro, e o número de pessoas em situação de rua aumentou, com um alarmante crescimento de 23,2% em Buenos Aires apenas em novembro do ano passado.

Estudos do Observatório da Dívida Social, vinculado à Universidade Católica Argentina, indicam que a forma como a pobreza é medida pode ocultar disparidades importantes. Eles argumentam que, embora os índices de pobreza e indigência tenham diminuído, um "piso estrutural de pobreza crônica permanece difícil de romper". Segundo o observatório, 29% dos trabalhadores ainda vivem abaixo da linha da pobreza, e sem a criação de melhores e mais bem remunerados empregos, especialmente para o setor informal, a situação deve permanecer inalterada.

O desemprego estava em 6,4% no final do ano passado, um aumento em relação aos 5,7% do ano anterior, além de desafios no mercado de trabalho gerados pela paralisação de obras públicas.

"A pobreza multidimensional está aumentando, assim como a insegurança alimentar e a dificuldade de arcar com gastos com saúde e medicamentos", alerta o Observatório.

Com as eleições legislativas se aproximando, onde um terço do Congresso será renovado, a popularidade de Milei se mantém razoável, apesar de certa queda por conta do recente escândalo do criptogate.

Segundo uma pesquisa da AtlasIntel realizada em fevereiro, Milei tinha 48,4% de desaprovação e 47,4% de aprovação, um leve aumento em relação a janeiro, quando a aprovação era de 46,8%. O levantamento considerou uma margem de erro de dois pontos.