Ciência

Por que a maioria das pessoas é destra e não canhota?

2024-10-08

Autor: Fernanda

É fascinante notar que a grande maioria dos seres humanos é destra, mas por quê? Será que isso é uma mera coincidência ou o resultado da seleção natural?

De maneira geral, ser destro é associado a habilidades, competência e aceitação social, enquanto ser canhoto (ou zurdo) carrega desde cedo uma série de conotações negativas. Na verdade, a Real Academia Espanhola coloca ‘canhoto’ como sinônimo de mal, sinistro e até perverso, um estigma que existe desde a antiguidade. Esse preconceito ficou ainda mais evidente em representações cristãs, onde os justos são colocados à direita de Deus, enquanto os condenados ficam à esquerda. Culturas orientais e islâmicas também destacam a mão esquerda em contextos considerados escatológicos ou negativos.

Por que será que o lado esquerdo é visto com tanto desprezo ao longo da história? De um ponto de vista estatístico, a habilidade no braço direito parece ser mais comum entre as populações, mesmo que existam variações: por exemplo, estima-se que 5% da população da China seja canhota, enquanto no Ocidente esse número gira em torno de 10 a 12%. Mas o que é prevalente não necessariamente é o melhor do ponto de vista adaptativo e pode ser resultado de fatores aleatórios.

Então, por que somos majoritariamente destros? Vamos explorar duas teorias principais sobre as raízes biológicas desse fenômeno.

Primeira Hipótese: O Fator Genético

Estudos mostram que canhotos têm menor probabilidade de alcançar a velhice e são predominantemente homens. O canhotismo parece estar ligado aos níveis de testosterona, tendo uma prevalência maior em homens. No entanto, essa explicação pode não ser suficiente para entender por que o canhotismo é mais comum em gêmeos, prematuros ou em indivíduos que passaram por estresse fetal. E isso levanta a questão: será que a genética é realmente o único fator?

Segunda Hipótese: A Vantagem Adaptativa da Mão Destro

Embora ambas as mãos possam, em teoria, desenvolver a mesma força e habilidade, não é isso que ocorre na prática. Essa assimetria pode ser uma consequência de processos anatômicos que se desenvolvem de forma diferente em cada lado do corpo. Há até mesmo evidências de que a estrutura interna, como a configuração dos órgãos, pode influenciar na lateralidade. Por exemplo, o coração e a aorta estão deslocados para o hemitórax esquerdo, tornando essa região mais vulnerável e sujeita a lesões. Isso indiqua que a condição de ser destro poderia, em um contexto evolutivo, proporcionar uma sobrevivência maior.

No entanto, ao longo da história, muitos canhotos demonstraram vantagens em situações individuais de combate. Curiosamente, a predominância de destros nos exércitos, que enfrentavam desafios de coordenação com canhotos, pode ter contribuído para essa ideia. As populações mais antigas, como os caçadores-coletores, continuam a mostrar essa preferência pela destreza à direita, como evidenciado nas pinturas rupestres da caverna argentina de Las Manos, onde foram encontradas muito mais impressões de mãos direitas do que esquerdas.

As marcas encontradas em ossos de Homo heidelbergensis, com mais de 450.000 anos, também indicam uma dominância destra entre nossos ancestrais. Mesmo espécies anteriores à nossa linhagem apresentaram sinais de preferência pelo lado direito.

Conclusão

Apesar dos muitos estudos e teorias, a razão exata para a prevalência de destros ainda permanece um mistério. O que é certo é que ser canhoto ainda carrega um certo estigma e, como mostram as evidências, a expectativa de vida dos canhotos pode ser ligeiramente menor. Será que toda essa situação pode mesmo ser resumida como uma questão de 'mau sorte'? Essa é uma questão que desafia não apenas os cientistas, mas todos nós a refletirmos sobre como simples características podem assumir significados sociais tão complexos.