Você já se perguntou por que é tão difícil romper com aqueles hábitos que teimam em se perpetuar em nossa rotina? Esta dúvida é comum e as respostas podem ser mais complexas do que se imagina.

Após um dia estressante de trabalho, muitas pessoas acabam pedindo comida. Trata-se de uma escolha que parece imediata: a fadiga e o desejo por algo saboroso, culparão a falta de ânimo para cozinhar. Aqui, o estresse se torna um gatilho, a ação de pedir comida é o que fazemos e o prazer de saborear a refeição é a recompensa, que, se repetida diversas vezes, se transforma em um hábito.

O que muitos não percebem é que a criação de hábitos está ligada a um mecanismo psicológico intricado que envolve a forma como nosso cérebro opera. Por isso, entender como o cérebro funciona é crucial para mudarmos comportamentos. Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, explicou que nosso pensamento pode ser dividido em dois sistemas:

1. Sistema 1

Este sistema é rápido, intuitivo e funciona no piloto automático. Assim, quando algo se torna um hábito, nossa mente responde a ele automaticamente, sem reflexão consciente.

2. Sistema 2

Ao contrário, esse sistema é mais lento e analítico. É através dele que tomamos decisões mais ponderadas, exigindo um maior esforço mental.

Um exemplo clássico para ilustrar isso é o ato de dirigir. No início, você precisa estar totalmente atento, mas com o tempo, a direção se torna automática, permitindo que você converse ou ouça música sem perceber o que está fazendo.

Porém, essa automática do Sistema 1 também significa que estamos mais propensos a agir impulsivamente em situações de estresse. Emoções como cansaço, fome, raiva e ansiedade ativam nosso Sistema 1, tornando difícil resistir a velhos hábitos que buscamos mudar. Ou seja, a força de vontade precisa combater um processo cerebral que favorece a repetição.

A ideia de que é suficiente ter "força de vontade" para mudar hábitos é uma simplificação. Em situações de calma, pode-se controlar mais o Sistema 2, mas sob pressão, o Sistema 1 reina soberano.

Por qualquer razão, isso provoca um ciclo vicioso. Muitas vezes, a solução para quebrar um hábito está em se tornar mais consciente de suas atuações automáticas. E aqui entra a atenção plena como uma ferramenta poderosa. Na próxima edição, falaremos sobre técnicas eficazes para utilizar a atenção plena e conseguir redirecionar a força dos hábitos em sua vida.

Antes de encerrar, reflita: quais são os gatilhos que te levam a repetir hábitos indesejados? Entender isso pode ser o primeiro passo para transformações significativas.

Se você procura recursos adicionais, não deixe de conferir o livro "Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar" de Daniel Kahneman, além do aplicativo "Eat Right Now", que promove práticas diárias para construir novos hábitos alimentares saudáveis. A mudança é desafiadora, mas com conhecimento e as ferramentas certas, você pode superá-la!