Ciência

Presos em tempestade, cientistas celebram Natal em uma barraca no gelo da Antártica

2025-01-05

Autor: Julia

Na noite de Natal de 2024, oito pesquisadores tiveram que se contentar com uma barraca vermelha como abrigo em meio a uma feroz tempestade na Antártica. O desejo de estar juntos e seguros sob aquele teto temporário fez toda a diferença em um cenário tão inóspito.

Filipe Gaudie Lindau, 37 anos, pesquisador da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e especialista em engenharia química, estava na ilha Mill, onde sua equipe enfrentou o fechamento das portas para a possibilidade de voltar ao quebra-gelo que navegava a região. O Natal seria celebrado ali mesmo, em uma barraca projetada para quatro, enquanto os ventos uivavam do lado de fora.

Com uma bebida trazida na mochila, os pesquisadores brindaram à sobrevivência e à magia do Natal, reconhecendo a importância de estarem juntos em condições tão adversas. Lindau e sua equipe estavam na Antártica para coletar testemunhos de gelo, fundamentais para entender as mudanças climáticas, a poluição e a presença de microplásticos na atmosfera ao longo dos anos.

A missão exigia agilidade, pois o tempo era curto. Eles tinham até o final de janeiro para concluir o trabalho e retornar ao Brasil. Durante a estadia, os pesquisadores já haviam percorrido 500 metros de altitude, em uma ilha totalmente coberta de gelo, para coletar cilindros com profundidades de até dez metros. Esses cilindros, além de concentrar dados climáticos, forneceriam informações valiosas sobre a poluição e as variáveis atmosféricas do passado.

Quando chegaram à ilha no dia 24, o clima era favorável. No entanto, a situação mudou rapidamente. Em poucos minutos, a visibilidade caiu e a neve voava ao redor. Com um helicóptero carregado, o time teve que montar um acampamento rápido, e os desafios começaram: temperaturas gélidas, umidade alta e a inevitável falta de conforto em uma barraca destinada a menos pessoas.

Momentos depois de se abrigarem, o espírito natalino tomou conta. Mesmo enfrentando as dificuldades, os cientistas compartilharam risadas e lembranças especiais. Eles até tentaram entrar em contato com o navio, mas foram informados de que as condições climáticas não permitiriam um resgate imediato. A previsão era de que ficassem três dias na ilha, o que gerou desânimo, mas também um reforço à determinação de manter a equipe unida.

A situação se agravou, com a umidade condensando dentro da barraca e pingando sobre os cientistas. Para lidar com essa nova crise, eles desenvolveram estratégias improvisadas, incluindo o uso de garrafas para necessidades biológicas, o que deixou o ambiente ainda mais apertado. No entanto, essa realidade não abalou o ânimo, e todos se mantiveram focados em sua missão.

No segundo dia da tempestade, surgiu a esperança de que uma janela de clima melhor se aproximava. E, em um momento de expectativa, a visibilidade melhorou brevemente, permitindo que todos sonhassem com a possibilidade de partir. Após 33 horas absortos em meio às intempéries, a previsão se concretizou. O tempo melhorou, e eles conseguiram finalmente se deslocar.

O Natal deste ano foi rústico e desafiador, mas trouxe uma lição importante sobre resiliência e união, características essenciais para quem trabalha em pesquisa em regiões tão extremas. Os cientistas aprenderam que, mesmo em meio aos piores imprevistos, é fundamental manter a esperança e a camaradagem, fatores que podem fazer toda a diferença.