Putin Revela Falhas na Preparação da Invasão à Ucrânia e Lança Desafios Militares
2024-12-19
Autor: Matheus
O presidente russo, Vladimir Putin, fez uma declaração surpreendente nesta quinta-feira (19), reconhecendo que a invasão da Ucrânia deveria ter ocorrido antes de fevereiro de 2022 e que a operação não foi suficientemente bem planejada. Este tipo de autocrítica é raro vindo do líder russo, especialmente em relação a um assunto tão delicado quanto o conflito com seu vizinho.
Durante sua coletiva de imprensa anual em Moscou, Putin afirmou: "A decisão [de invadir] deveria ter sido tomada antes e deveríamos ter nos preparado de forma mais sistemática". Em 24 de fevereiro de 2022, quando a invasão começou, muitos analistas acreditavam que Kiev cairia em apenas três dias, mas por conta de erros significativos, como a subestimação da resistência ucraniana e falhas logísticas, a Rússia não conseguiu tomar a capital logo de cara.
Em seus comentários, Putin refletiu sobre o impacto emocional da guerra em sua vida pessoal. "Eu comecei a fazer menos piadas e quase parei de sorrir. Esses anos têm sido de tribulação para o país e para mim também", disse ele, e acrescentou que "a felicidade plena só virá quando nossos meninos voltarem da frente de batalha".
Por outro lado, Putin assegurou que a situação na Ucrânia está mudando a seu favor e que a Rússia está em uma posição ofensiva. Ele mencionou que, recentemente, conquistou mais duas vilas na região de Donetsk e continuou a expressar sua disposição em negociar com os ucranianos, embora acusando-os de se recusarem a dialogar.
A coletiva, que se tornou uma tradição desde 2001, teve uma duração de 4 horas e 30 minutos e foi acompanhada por aproximadamente 500 jornalistas. Em edições anteriores, como em 2019, Putin havia interagido com quase 1.900 jornalistas por quase cinco horas. Esta foi uma das poucas vezes em que a coletiva não ocorreu, como em 2022, quando a Rússia enfrentava sucessivas derrotas na Ucrânia.
Durante a coletiva, Putin também respondeu a uma pergunta desafiadora de Keir Simmons, correspondente da NBC, que questionou se sua posição seria mais fraca devido ao que muitos consideram falhas na guerra. Putin, por sua vez, negou a ideia de fraqueza russa, afirmando que "nós somos um verdadeiro Estado soberano e estamos mais fortes hoje".
Um momento tenso da coletiva se deu quando Putin propôs um "duelo tecnológico" contra os Estados Unidos, mencionando um novo míssil balístico, o Orechnik, que ele acredita ser inabalável pelos sistemas de defesa ocidentais. "Vamos fazer um experimento. Atingir, por exemplo, Kiev, enquanto todos os sistemas antiaéreos estão em alerta. Isso será útil tanto para nós quanto para os americanos", afirmou, em tom provocativo.
Além disso, o presidente russo se referiu ao assassinato do general Igor Kirillov como um ato terrorista e prometeu ajustar erros que permitiram o ataque. Durante a coletiva, uma moradora de Kursk questionou Putin sobre quando poderia voltar para sua casa, evidenciando o impacto humano da guerra na Rússia.
Putin também falou de questões econômicas, prevendo uma desaceleração do PIB da Rússia nos próximos anos, com a inflação em torno de 9%. Ele fez críticas ao Banco Central, sugerindo que o aumento das taxas de juros para conter a inflação foi oportuno. A taxa básica de juros atualmente se encontra em 21% ao ano, um número exorbitante que suscita preocupação no país.
Em um tom mais leve, mas revelador, ele discutiu questões cotidianas da população, como a escassez de insulina em certas regiões e a inflação do preço da manteiga. Ele ainda fez comentários sobre personalidades internacionais que considerava próximos e, em um momento curioso, comentou as preocupações de uma jornalista sobre o aborto e a pornografia na Rússia, deixando claro que a liberdade de escolha deve prevalecer, apesar de suas crenças pessoais. Essa reunião anual reafirma tanto a estratégia de comunicação de Putin quanto sua intenção de manter a narrativa do fortalecimento da Rússia diante do Ocidente.