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Quadratura do Círculo: Por que Muitos Ainda Insistem na Impossibilidade?

2024-12-24

Autor: Fernanda

A quadratura do círculo é um dos desafios mais célebres da geometria, datando da Grécia antiga. O problema consiste em usar apenas régua e compasso para construir um quadrado cuja área seja exatamente a mesma de um círculo de raio dado. Considerando que a área do círculo é π (pi), a questão se reduz a encontrar um segmento de comprimento igual à raiz quadrada de π.

O cardeal Nicolau de Cusa (1401–1464), uma figura proeminente na transição da Idade Média para o Renascimento, desafiou esse problema. Embora acreditasse que uma solução puramente geométrica era impossível, propôs que a solução poderia ser encontrada em sua filosofia – um exemplo de como a matemática e a filosofia interagem ao longo da história.

Seu contemporâneo, Johannes von Königsberg (1436–1476), conhecido como Regiomontanus, também era cético em relação à quadratura do círculo. Sabendo que a compreensão de π ainda era incipiente, ele percebeu que a questão exigia um enfoque mais matemático do que filosófico.

A polêmica em torno da quadratura ganhou notoriedade entre figuras como o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588–1679) e o matemático John Wallis (1616–1703). Hobbes, conhecido por suas ideias em filosofia política, sugeriu em sua obra "De Corpore" que tinha encontrado uma solução. Wallis, em contraste, não apenas refutou Hobbes, mas também o criticou por sua falta de habilidade em geometria. O atrito entre os dois culminou em uma troca de farpas que se estendeu por anos, destacando as tensões entre a filosofia e a matemática.

Avançando para 1698, o matemático amador Jacob Marcelis (1636–1714) fez a ousada afirmação de que π era um número racional, propondo uma expressão complexa que, supostamente, resolveria a quadratura. O famoso matemático britânico Augustus de Morgan, em sua obra "A Budget of Paradoxes", expressou sua esperança de que as habilidades de Marcelis em fazer sabão fossem melhores que suas destrezas matemáticas.

Com o progresso da matemática, no início do século 19, ficou evidente que números que podem ser construídos usando apenas régua e compasso são necessariamente algébricos. Em 1882, Ferdinand von Lindemann (1852–1939) provou de forma definitiva que π é um número transcendente, estabelecendo assim que a quadratura do círculo é, de fato, impossível. Essa descoberta não apenas selou o destino do problema, mas também abriu um novo entendimento sobre a natureza dos números e suas propriedades.

Hoje, apesar das conclusões matemáticas claras sobre a impossibilidade da quadratura do círculo, os apaixonados pela matemática continuam a explorar essa questão. Surpreendentemente, recebo anualmente entre três a quatro soluções propostas para o problema, mostrando que a busca pela compreensão matemática é um aspecto intrínseco à natureza humana.