Quem é o "Messias do TikTok" que pode se tornar presidente da Romênia?
2024-11-28
Autor: João
Os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais na Romênia, realizados no último domingo (24), surpreenderam a todos. Calin Georgescu, um candidato independente com um discurso ultranacionalista, terminou em primeiro lugar, conquistando 22,9% dos votos. Ele se preparará agora para o segundo turno contra a reformista Elena Lasconi, da União Salve a Romênia (USR), que obteve 19,17%.
Surpreendentemente, o atual primeiro-ministro e líder do Partido Social Democrata (PSD), Marcel Ciolacu, era amplamente considerado o favorito nas pesquisas, mas acabou em terceiro lugar, com 19,15% - apenas 2 mil votos atrás de Lasconi. Este resultado marca a primeira vez em três décadas que um candidato social-democrata não avança para o segundo turno, levando Ciolacu a renunciar.
Uma pesquisa inicial indicava que Lasconi e o então primeiro-ministro estavam à frente, mas Georgescu se destacou à medida que os votos eram apurados. Ele é conhecido por seu discurso religioso e nacionalista, defendendo uma política protecionista em apoio a agricultores e à produção nacional de alimentos, áreas que foram fundamentais em sua carreira.
Georgescu tem se tornado uma figura proeminente nas mídias sociais, semelhante a outros líderes de extrema direita na Europa, como Jordan Bardella, da França, e Nigel Farage, do Reino Unido. Sua popularidade cresceu especialmente no TikTok, onde possui cerca de 3,8 milhões de curtidas e 298 mil seguidores. Seus vídeos muitas vezes se tornam virais, apresentando uma poderosa mistura de judô, drama e elementos tradicionais romenos. Esta combinação lhe rendeu o título de "Messias do TikTok".
O especialista Dragos Stanca, fundador da Ethical Media Alliance na Romênia, alertou que o algoritmo das redes sociais pode estar contribuindo para a disseminação de mensagens perigosas, afirmando: "Estamos usando a ferramenta errada para o objetivo errado, e nossas democracias estão em perigo se continuarmos neste caminho".
Assim como em outros países que viram ascensão da extrema direita, a insatisfação da população foi um fator crucial para os resultados eleitorais. Professor de relações internacionais, Valentin Naumescu observa que uma parte significativa do eleitorado esperava por um candidato radical e antiocidental. A mudança de apoio de George Simion, outro candidato de extrema direita que ficou em quarto lugar, para Georgescu reflete um desejo de voto de protesto contra o sistema.
Georgescu também expressa visões preocupantes sobre política externa, criticando o sistema de defesa de mísseis balísticos dos EUA na Romênia e elogiando figuras como o presidente russo Vladimir Putin, a quem descreveu como "um homem que ama seu país". Ele também manifesta admiração pelo primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, destacando sua habilidade em negociar internacionalmente.
Na Romênia, o presidente tem um mandato de cinco anos e exerce um papel semi-executivo, sendo comandante-chefe das forças armadas e representando o país em reuniões da Otan e da União Europeia (UE). O segundo turno das eleições será realizado no dia 8 de dezembro, e o resultado poderá redefinir não apenas o futuro político da Romênia, mas também suas relações com a UE e a Otan.