Ciência

Radiação dos satélites Starlink compromete a observação astronômica

2024-09-30

Autor: Ana

A radiação emitida pelos satélites mais modernos da Starlink, subsidiária da SpaceX, está ofuscando radiotelescópios e dificultando o trabalho de astrônomos, de acordo com um estudo do Instituto Holandês de Radioastronomia (Astron).

A Starlink, liderada por Elon Musk, já possui uma frota de mais de 6.300 satélites em funcionamento ao redor da Terra, representando mais da metade dos objetos em órbita. Um terço dessa frota consiste em modelos de segunda geração, que são significativamente mais brilhantes e, portanto, mais problemáticos para os cientistas.

Esse fenômeno é conhecido como radiação eletromagnética não intencional (UEMR) e afeta não apenas satélites da Starlink, mas também de outras empresas do setor espacial. Esses satélites operam a uma altitude de 550 km, oferecendo internet de banda larga, especialmente em áreas remotas, como na Amazônia.

Pesquisas indicam que a radiação dos satélites de nova geração da Starlink interfere em até 32 vezes mais do que os modelos anteriores. Essa interferência está prejudicando a capacidade dos telescópios de captar sinais fracos do espaço, dificultando a detecção de fenômenos astronômicos importantes.

Benjamin Winkel, cientista do Instituto Max Planck de Radioastronomia, destaca que a radiação está “cegando” os telescópios, saturando suas capacidades. "Quando dizemos 'cego', nos referimos à excessiva iluminação que impede a observação de objetos celestes", explica.

A Astron também expressou preocupação com a projeção do crescimento do número de satélites em órbita, que pode ultrapassar 100 mil até o final da década. Com muitos satélites da Starlink já visíveis a olho nu, um aumento significativo dessa frota pode dificultar ainda mais os trabalhos de astronomia óptica e radioastronômica.

"Meus colegas expressaram temor em relação ao futuro", revelou Winkel, enfatizando que, para uma observação eficaz, são necessárias melhorias significativas nas condições atuais.

Recentemente, as descobertas foram publicadas na renomada revista Astronomy & Astrophysics e mostram-se devastadoras para observações realizadas pelos radiotelescópios. A poluição eletromagnética da faixa próxima à Terra, combinada com a interferência de fontes terrestres como telefones celulares, pode reduzir a sensibilidade dos equipamentos.

Além disso, telescópios ópticos também estão em risco. A presença massiva de satélites pode refletir luz e criar "manchas" indesejadas nas imagens obtidas, comprometendo dados valiosos obtidos nas observações.

O que pode ser feito para evitar um apagão astronômico?

Embora a poluição de rádio no solo esteja sob controle regulatório internacional, a situação no espaço é mais complexa. Com pouquíssimas normas regulatórias para operadoras de satélites, a comunidade científica depende de interações construtivas com essas empresas.

A Starlink já tomou algumas iniciativas para mitigar o ruído de rádio e declarou que continuará a trabalhar para desviar emissões de rádio das linhas de visão dos telescópios. A empresa também mantém um convite aberto a organizações de radioastronomia para colaborar na proteção da pesquisa científica vital.

Outro ponto importante a destacar é que a Starlink não é a única responsável por interferências astronômicas. A OneWeb, um novo competidor no mercado de internet via satélite, já tem cerca de 630 satélites em órbita, enquanto o projeto Kuiper da Amazon, com dois satélites até agora, está se expandindo rapidamente para oferecer mais conectividade.

Com a crescente utilização do espaço por satélites de internet, a comunidade astronômica terá que se adaptar a essas novas realidades para garantir que a exploração do cosmos não seja comprometida.