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Refugiado Palestino Sonha com Retorno à Faixa de Gaza Após Desastre

2024-10-08

Autor: Carolina

Após 10 meses no Brasil, o palestino Naji Youssef Aldwaik, de apenas 24 anos, vive um verdadeiro dilema emocional. A tragédia começou em outubro de 2023, quando o grupo terrorista Hamas invadiu Israel com ataques devastadores que resultaram na morte de 1,2 mil israelenses. Em resposta, Israel declarou guerra, bombardeando a Faixa de Gaza, onde cerca de 42 mil pessoas morreram ao longo de um ano de intensos combates.

"Antes de 7 de outubro, a vida na Faixa de Gaza era bem diferente. As pessoas podiam estudar e trabalhar. Agora, tudo foi destruído. Universidades, escolas, hospitais... não restou nada!", desabafa Naji, que conseguiu escapar do conflito junto com sua família após dois meses de bombardeios. Ele lembra que o único membro da família que ficou na Gaza é seu irmão, Montaser, que não pôde sair por trabalhar como policial.

"A situação lá é insuportável. A comida e a água são escassas, a energia elétrica é rara. As pessoas estão morando em campos, enfrentando chuvas e frio", conta Naji, angustiado pelas condições de sua terra natal.

Naji, seu pai, mãe, duas irmãs, cunhadas e sobrinhos chegaram ao Brasil e se abrigaram em um projeto de acolhimento em Morungaba, no interior de São Paulo. Atualmente, ele vive com amigos em Valinhos e está se adaptando à nova cultura e idioma, mas o desejo de retornar à sua terra natal ainda o consome. "Para nós, palestinos, a Palestina é como nossa mãe. Todos queremos voltar", afirma.

Recentemente, Naji recebeu a triste notícia da morte de dois primos, um deles com apenas três anos de idade. Para se manter informado sobre sua família e amigos que permanecem em Gaza, ele utiliza mensagens em grupos de WhatsApp, além de acompanhar as notícias pela mídia.

"Eu perdi muitos amigos. A dor dessa guerra não é apenas a perda material, mas a perda de vidas que eram cheias de sonhos e esperança", lamenta.

Antes da guerra, Naji se formou em administração e se dedicava a trabalhos voluntários em Gaza. Após o início do conflito, as forças militares israelenses o orientaram a se mudar para o sul da região para escapar dos bombardeios diretos, mas, ao retornar, encontrou seu lar em ruínas: "Minha casa foi completamente destruída; não sobrou nada, nem mesmo os animais que criávamos", relembra com tristeza.

Enquanto isso, Montaser, que vive em Gaza, enfrenta sua própria tragédia. Ele acabou amputando uma das pernas devido a um ataque de míssil que atingiu a casa onde estava. Naji compartilha que a comunicação entre eles é difícil devido à instabilidade da internet na faixa de Gaza.

No Brasil, Naji reconstrói sua vida ao lado do médico Abdel Latif e sua esposa, Jamile, e planeja cursar direito: "Estudo português todos os dias e espero um dia ser advogado". Apesar do recomeço, a saudade e o desejo de voltar para a Palestina continuam a ser uma sombra em sua nova vida.

Esse conflito não é apenas uma estatística; é um confronto que impactou vidas, destruiu lares e deixou uma geração inteira em busca de esperança e um futuro melhor. A experiência de Naji é uma prova do que muitos palestinos estão enfrentando e da urgência de uma solução duradoura para a paz na região.