Um novo estudo clínico de fase 3, publicado na renomada revista New England Journal of Medicine, revelou que a liraglutida, um medicamento inicialmente utilizado para diabetes tipo 2, mostrou resultados promissores no tratamento da obesidade em crianças de 6 a 12 anos. As crianças que participaram do estudo apresentaram uma perda de peso significativa em comparação com o grupo que recebeu placebo, mas é crucial ressaltar que essas melhorias foram observadas em conjunto com intervenções no estilo de vida dos pacientes.

A obesidade infantil é uma questão alarmante, com implicações profundas para a saúde a longo prazo. Pode resultar em doenças graves, como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e até mesmo certos tipos de câncer. Segundo especialistas, como a nutróloga Mônica Moretzon, 8 em cada 10 adolescentes com obesidade provavelmente carregarão esse problema até a vida adulta.

A prevenção da obesidade infantil deve começar cedo. O aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses é um fator fundamental para garantir um desenvolvimento saudável. Além disso, ensinar hábitos alimentares saudáveis e promover a atividade física são práticas essenciais para combater essa epidemia em jovens.

Embora várias intervenções já existam, os resultados podem ser limitados sem uma abordagem medicamentosa. Neste recente estudo, 82 crianças foram divididas em dois grupos: 56 delas tomaram liraglutida por 56 semanas, enquanto o restante recebeu placebo. A dose? 3 mg. Além do medicamento, todos os participantes foram incentivados a se engajar em 60 minutos de atividade física diária e a seguir uma dieta saudável com o acompanhamento de profissionais de saúde.

Os resultados foram impressionantes: o grupo que utilizou liraglutida teve uma redução média de 5,8% no IMC, enquanto o grupo controle não apenas não perdeu peso, mas experimentou um ganho de 1,6%. Contudo, especialistas como Eliete Dalla Corte Frantz, farmacêutica e professora da UFF, alertam que deve-se ter cautela com esses resultados. O impacto da redução do IMC ainda precisa ser mais investigado, principalmente sua relevância clínica em crianças.

Outro ponto importante do estudo são os efeitos colaterais. Durante o tratamento, 80% dos participantes que tomaram liraglutida relataram problemas gastrointestinais, em comparação a 50% do grupo placebo. Além disso, 12% dos que estavam sob tratamento apresentaram efeitos adversos graves, em contraste com 8% no grupo de controle.

Vale lembrar que a liraglutida já é aprovada para adolescentes a partir dos 12 anos, desde 2020, e faz parte da terapia do Saxenda. A nova pesquisa fortalece a discussão sobre o uso desse tipo de medicação em crianças. Além disso, o Wegovy, outro medicamento conhecido como "caneta emagrecedora", também foi recentemente aprovado para uso em adolescentes, refletindo uma mudança significativa na abordagem ao tratamento da obesidade infantil.

Com dados de quase 250 participantes, as evidências científicas se acumulam, mas a necessidade de mais estudos a longo prazo continua, especialmente para entender os efeitos duradouros da liraglutida em crianças. Então, como agir para combater a obesidade infantil? Pergunta que exige reflexão coletiva e urgentemente: precisamos unir esforços médicos, familiares e sociais para enfrentar essa crise de saúde pública!